Siga nossas redes sociais
17/05/2025

Entretenimento

Psicóloga explica porque jogos de azar são tão viciantes quanto substâncias químicas

Published

on

Compartilhe

A presença da influenciadora Virgínia Fonseca na CPI das Bets reacendeu discussões sobre o impacto dos influenciadores digitais na disseminação de jogos de azar. No entanto, segundo a psicóloga Danny Silva, especialista em comportamento humano e saúde emocional, a compulsão por apostas vai muito além do que se vê nas redes sociais. Para ela, o vício em jogos funciona no cérebro da mesma forma que o uso de substâncias químicas.

“Quando alguém aposta e ganha, mesmo que pouco, o cérebro libera dopamina — o neurotransmissor do prazer. Isso ativa o circuito de recompensa imediata, o mesmo envolvido em vícios como drogas e álcool. O cérebro entra em estado de compulsão, como se estivesse hipnotizado. A pessoa perde a capacidade racional de parar”, explica.

Segundo Danny, muitos apostadores estão em busca não apenas de dinheiro, mas de anestesia emocional. “Traumas não resolvidos, sentimentos de solidão, frustração e um senso de vazio existencial fazem com que essas pessoas encontrem nas apostas uma sensação de excitação e alívio imediato”, diz. Nesse estado, o cérebro desativa o córtex pré-frontal (responsável pelo pensamento lógico) e se entrega ao sistema límbico, onde predominam as emoções.

A psicóloga ainda destaca o chamado “viés de otimismo ilusório”: “A pessoa acredita que com ela será diferente, que vai recuperar o que perdeu ou que ‘na próxima ela acerta’. Esse pensamento irracional alimenta o vício e pode levar a grandes perdas — financeiras, emocionais e até familiares”.

O vício em apostas é reconhecido pela psicologia como Transtorno do Jogo, uma condição registrada no DSM-5 (manual internacional de diagnóstico em saúde mental), com sintomas como preocupação constante com apostas, necessidade crescente de riscos, irritabilidade ao tentar parar, mentiras para esconder o comportamento e prejuízos em relacionamentos, finanças e carreira.

Esse cenário se agrava quando analisado à luz de dados recentes da CPI das Bets: só no mês de agosto de 2024, os brasileiros gastaram cerca de R$ 21 bilhões em apostas online. Entre os apostadores, 5 milhões eram beneficiários do Bolsa Família, responsáveis por transferir R$ 3 bilhões via Pix para plataformas de jogos. O número representa cerca de 20% dos recursos do programa social naquele mês. Além disso, 4 milhões desses jogadores eram chefes de família, os principais responsáveis por receber o benefício, e movimentaram R$ 2 bilhões.

Para Danny Silva, é urgente tratar o vício em jogos como questão de saúde pública. O tratamento, segundo ela, é multidisciplinar e inclui terapia cognitivo-comportamental, acompanhamento familiar, grupos de apoio e, em casos graves, uso de medicamentos. “O jogo compulsivo muitas vezes caminha junto com depressão, ansiedade, uso de substâncias e até ideação suicida. Precisamos olhar para isso como um problema de saúde pública, e não apenas como um desvio de caráter ou irresponsabilidade”, afirma.

Enquanto a CPI segue colhendo depoimentos de influenciadores e celebridades que promoveram plataformas de apostas, especialistas como Danny alertam: a raiz do problema pode estar menos na tela do celular — e mais nos vazios emocionais que o jogo promete, mas nunca consegue preencher.

Redação Exibir Gospel