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25/11/2024

Depoimentos

Asbury: renascimento espiritual ou excesso emocional?

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Por Gutierres Fernandes Siqueira*

Uma simples reunião de oração tornou-se um culto ininterrupto que já dura uma semana. O fenômeno ocorre a mais de 200 horas ininterruptas em Asbury University, que fica na zona rural de Kentuckuy, nos Estados Unidos. A enorme corrente de adoração não tem previsão para acabar e, a cada hora, atrai mais pessoas. Os inúmeros relatos, posts e lives nas redes sociais reportam que os hinos e orações são acompanhados de lágrimas, alegrias e abraços.

Quem esteve no local e também estudiosos no assunto considera o fenômeno como o novo “avivamento”. A Asbury University é uma universidade cristã particular em Wilmore, com raízes nos movimentos Wesleyano-Santidade. Algo semelhante também ocorreu nos anos 1970. Diante da notícia que se espalha como fogo, muitos estão se perguntando se estamos vendo um avivamento em tempo real pelas redes sociais?

Na teologia evangélica, avivamento é um termo utilizado para descrever um período de renovação e revitalização espiritual que ocorre em uma igreja ou movimento religioso. Geralmente, é caracterizado por um aumento no fervor religioso, uma maior consciência da presença de Deus, um crescimento de conversões e um maior envolvimento com as práticas religiosas. Eles podem ser provocados por diversos fatores: pregações inspiradoras, eventos religiosos especiais, estudos bíblicos, oração fervorosa, entre outros.

Embora sejam frequentemente associados ao movimento evangélico, também ocorremr em outras tradições religiosas, incluindo católicos – exemplo é a Renovação Católica Carismática na década de 1960. Muitos teólogos evangélicos acreditam que o avivamento é uma resposta direta de Deus às orações e à fidelidade de seu povo. Eles veem o acontecimento como uma oportunidade para as pessoas se aproximarem de Deus e para a igreja cumprir sua missão de compartilhar o Evangelho com o mundo.

No entanto, outros teólogos podem ter uma visão mais crítica e argumentam que ele pode ser acompanhado por excessos emocionais ou por uma ênfase exagerada na experiência religiosa em detrimento da doutrina e do ensinamento bíblico.

Os teólogos evangélicos normalmente associam avivamento com transformação social porque acreditam que a renovação espiritual pode levar a mudanças significativas na vida pessoal e comunitária. Quando os indivíduos experimentam um renascimento espiritual e um maior compromisso com a ética cristã, isso pode levar a uma mudança na forma como eles se relacionam com suas famílias, amigos, colegas de trabalho e vizinhos.

Além disso, o avivamento também pode levar a uma mudança na forma como as pessoas veem a si mesmas em relação à sociedade. Por exemplo, quando um indivíduo passa a ver a si mesmo como um agente de mudança positiva em sua comunidade, ele pode se envolver mais ativamente em questões sociais, políticas e econômicas atuais.

O avivamento também pode ter efeito positivo na sociedade como um todo, à medida que os cristãos se comprometem a trabalhar pela justiça social, pela paz e pelo bem-estar dos necessitados. Alguns exemplos de transformação social que foram associados a avivamentos incluem a abolição da escravidão, o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos e o movimento contra o apartheid na África do Sul.

Fato curioso: o nome da universidade é uma homenagem a Francis Asbury, um dos primeiros bispos da Igreja Metodista nos Estados Unidos, que foi conhecido por seu trabalho incansável no campo social e espiritual. Ele viajou por todo o país, pregando o Evangelho e estabelecendo igrejas em áreas remotas e rurais. Ele foi um defensor da educação e trabalhou para estabelecer escolas em várias comunidades onde havia poucos recursos.

Além disso, lutou ativamente contra a escravidão. O trabalho social e espiritual de Francis Asbury é um exemplo do compromisso dos metodistas com a transformação social. Que o avivamento em Asbury carregue o seu legado para futuras gerações.


*Gutierres Fernandes Siqueira é teólogo e jornalista; autor do livro “Quem tem medo dos evangélicos?”, publicado pela Editora Mundo Cristão.