Principal suspeito publicou na internet um manifesto contra muçulmanos e imigrantes; premiê afirma que nível de ameaça à segurança nacional no país está no segundo mais alto
WELLINGTON, NOVA ZELÂNDIA – Ao menos 49 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas durante ataques a duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, nesta sexta-feira, 15, no pior massacre a tiros da história do país, condenado pela primeira-ministra Jacinda Ardern como terrorismo. Segundo o jornal Washington Post, parte das ações foi transmitida ao vivo em uma rede social por um homem que escreveu na internet um manifesto de 74 páginas contra muçulmanos e imigrantes.
No texto, o principal suspeito – que alega ser autor dos ataques – diz que seguia o exemplo de extremistas como o supremacista branco Dylann Roof, que matou nove fiéis negros em uma igreja em Charleston, no Estado americano da Carolina do Sul, em 2015. O manifesto cita como motivação o “genocídio branco”, termo geralmente utilizado por grupos racistas para se referir à imigração e ao crescimento de minorias.
Autoridades disseram que quatro suspeitos eram mantidos sob custódia – três homens e uma mulher -, mas depois esclareceram que apenas três deles tinham envolvimento nas ações e um foi solto. Um homem de cerca de 30 anos, cuja identidade não foi divulgada, foi preso acusado de assassinato e se apresentará ao tribunal no sábado.
O comissário Mike Bush afirmou que foram encontrados “dispositivos explosivos nos veículos utilizados pelos suspeitos” e que o Exército conseguiu desarmar as bombas. Ele detalhou que 41 pessoas morreram na mesquita de Masjid Al Noor, no centro da cidade, outras 7 na de Linwood, localizada a cerca de 5 km da primeira, e uma no hospital. O departamento de saúde local informou que 48 feridos, incluindo crianças, recebiam atendimento no Hospital de Christchurch.
O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, confirmou que entre os detidos há um cidadão australiano, mas as autoridades locais não informaram as identidades de cada um. De acordo com Jacinda Ardern, todos eles têm visão extremista, mas não eram vigiados pela polícia. Ela afirmou que o nível de ameaça à segurança nacional foi elevado para o segundo mais alto e que forças antiterrorismo foram ativadas em todo o país e na Austrália.
A polícia advertiu a população a evitar as mesquitas em todo o país e ressaltou que não procura mais suspeitos. Um enorme cordão policial foi formado para isolar parte de Christchurch, cidade da Ilha do Sul da Nova Zelândia. Mike Bush afirmou que todas as escolas da cidade estão fechadas e a polícia pediu “às pessoas no centro que evitem permanecer nas ruas e informem qualquer comportamento suspeito”.
Policiais retiraram os moradores de uma propriedade perto da cidade de Dunedin, suspeitos de ligação com os ataques às duas mesquitas, o mais grave contra muçulmanos em um país ocidental.
Tragédia
Na mesquita Masjid Al Noor, um imigrante palestino que pediu para não ser identificado disse que viu um homem ser baleado na cabeça. “Escutei três tiros e após uns dez segundos tudo começou novamente. Devia ser uma arma automática porque ninguém consegue apertar o gatilho tão rapidamente”, contou ele. Segundo testemunhas, “as pessoas saíram correndo” do local, “algumas cobertas de sangue”.
Uma testemunha, Len Peneh, disse que viu um homem com roupas pretas entrar na mesquita e logo depois escutou dezenas de disparos. Ele contou também que viu o agressor enquanto fugia antes da chegada das equipes de emergência, e que entrou no local para tentar ajudar. “Vi mortos por todos os lados.” Minutos depois, a imprensa local reportou disparos em outra mesquita.
No momento do atentado, a mesquita Masjid Al Noor estava repleta de fiéis, incluindo a equipe de cricket de Bangladesh. Segundo testemunhas, os jogadores conseguiram fugir para um parque ao lado do prédio, no centro da cidade.
Um porta-voz da equipe confirmou que todos os jogadores, que estão no país para uma partida, conseguiram escapar ilesos. “Estão em segurança, mas também em estado de choque. Dissemos para toda a equipe ficar confinada no hotel”, informou o porta-voz. O jogo que estava marcada para este sábado contra a Nova Zelândia foi cancelado.
A companhia aérea Air New Zealand cancelou ao menos 17 voos que chegariam ou sairiam de Christchurch, sob o argumento de que os funcionários não poderiam rastrear passageiros e suas bagagens.
*Fonte: Estadão.