No dia 15 de março de 2011, começava uma guerra civil avassaladora na Síria cujos efeitos ainda persistem no país. A situação se tornou ainda mais imprevisível após a queda de Bashar al-Assad em dezembro de 2024.Prova disso foi a onda de violência que tomou o país na última semana, no conflito entre apoiadores do antigo governo e as autoridades interinas, o que colocou a Síria nas principais manchetes internacionais. O porta-voz de comunicações da Portas Abertas no Oriente Médio e Norte da África confirmou que quatro cristãos foram mortos na crise, mas não há evidência de que foram assassinados por causa da perseguição religiosa, nem de um ataque em massa a cristãos nos últimos dias. Ele expressa grande preocupação com os rumores não confirmados de um “massacre de cristãos” que vêm circulando nas redes sociais e podem ter repercussões negativas para a população cristã local. “Recentemente, quando uma ONG cristã iniciou um processo contra o novo presidente da Síria, o governo interrogou um líder cristão da mesma denominação da ONG, mas que não tinha relação com a solicitação, questionando por que os cristãos sírios eram tão contrários ao presidente. Da mesma forma, os rumores atuais podem repercutir gravemente sobre a comunidade cristã que não tem relação com o surgimento ou a divulgação desses rumores”, afirma o porta-voz. O maior receio da igreja local é que haja um novo êxodo de cristãos sírios fugindo da violência. É importante reforçar que a Portas Abertas só comunica notícias verificadas e está acompanhando de perto os vídeos e notícias recentes para verificar sua veracidade. “Temos uma rede forte em campo há mais de 20 anos, pela qual continuamos a monitorar a situação de perto. À medida que recebermos novas informações verificadas, compartilharemos em nossos canais de comunicação”, disse o responsável pela comunicação da Portas Abertas Internacional. Ainda há muitas incertezas e medo para os 579 mil cristãos que restam na Síria de que grupos radicais aproveitem as mudanças no país para oprimir ainda mais os seguidores de Jesus. Embora não haja evidências fortes de uma matança em massa de cristãos sírios nesta ocasião, isso não significa que eles não estejam em risco. A Síria ocupa o 18º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2025 (LMP), com uma classificação de perseguição severa. A LMP é um documento publicado anualmente pela Portas Abertas, que classifica os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos. Entre medo e esperança “Por quatorze anos ouvimos que quando o grupo de oposição HTS chegasse ao poder, seríamos massacrados”, disse um jovem cristão de Homs. Uma consequência negativa da mudança de regime é o crescimento do crime devido à ausência do Exército, polícia e serviço secreto, que foram demitidos após a queda d ex-presidente Bashar Al-Assad. Com esses agentes da lei desaparecidos, surgiu um vácuo de poder nas ruas, que os criminosos aproveitaram. Agora, grupos de jovens cristãos estão protegendo suas áreas à noite, atuando como vigilantes em seus bairros. Em Damasco, há agora 25 desses grupos. Mas também em outras cidades as pessoas se organizaram para fazer o mesmo. Em Homs, alguns cristãos compartilharam que não saem quando está escuro, nem se sentem seguros ao deixar áreas cristãs. Há sinais claros de que o pensamento e a governança islâmica terão um papel mais significativo. “Eles estão formando uma nova polícia e todos esses candidatos têm que estudar a sharia (conjunto de leis islâmicas).” Entre muitos dos cristãos, a incerteza levou a um novo impulso para querer deixar o país. “Quase todos os jovens querem sair, mas não apenas os que nasceram em famílias cristãs, os que se converteram do islamismo para o cristianismo também querem sair”, afirmou um líder cristão. Outro pastor disse: “Os cristãos de origem muçulmana se tornarão a maioria na igreja síria do futuro, mas eles estão com medo”. Apesar do que esses dois pastores dizem, outros pastores que trabalham com um número significativo de cristãos de origem muçulmana no Norte e Nordeste do país veem a nova era da Síria como uma oportunidade. “É hora de provar que estamos aqui”. Um líder cristão disse que a Síria agora é como uma mulher em trabalho de parto, “entre dor e esperança”. |