Atuando desde 1996 na área da educação e desde 2001 na de
desenvolvimento humano, não foram raras as vezes em que alguém me fez perguntas
pesadas e algumas curiosas sobre depressão. Algumas vezes, as pessoas esperavam
respostas que os levassem à “cura” ou ao melhoramento dos efeitos da depressão,
geralmente, para outra pessoa.
É realmente curioso como o tema depressão – tão comum em
nossos dias – tem sido motivo de vergonha para uma grande parte da população.
As perguntas sempre vêm como preocupação que alguém sente por outra pessoa.
Depressão é real?
A primeira coisa que precisamos entender é que a depressão é
uma doença real e que ela atingia, em 2015, mais de 4,4% da população global, o
que representava cerca de 322 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS). O mesmo relatório apontou que o Brasil é o líder da depressão
na América Latina e o quinto lugar na posição mundial. Calculava-se naquele ano
que mais de 11,5 milhões de deprimidos eram brasileiros, o que representava
9,3% da população, ou seja, quase um a cada dez brasileiros sofrem de
depressão, incluindo-se aí as fobias, ansiedade social e ansiedade
generalizada, pânicos, os transtornos obsessivos compulsivos e desordens de
estresse pós-traumático.
O título deste texto foi uma destas perguntas que recebi ao
longo de minha trajetória em desenvolvimento humano. Parece um questionamento
duro e frio, e realmente é, pois ele representa outra grande parte da população,
que pensa estar livre da depressão por no momento não sofrer da doença, que
muito facilmente julga sem conhecimento de causa as dificuldades e situações de
dores profundas e inexplicáveis que as pessoas que possuem o quadro da
depressão sentem.
O problema é que quando o deprimido é cobrado de melhora com
a justificativa de que o problema dele é frescura, moleza, que é falta do que
fazer ou que isso só está acontecendo com a pessoa porque ela é fraca, ele
recebe estímulos negativos que machucam ainda mais suas feridas internas
imperceptíveis até mesmo para o doente,
levando-o a um quadro ainda mais grave, que – não raros casos – acabam
em suicídio.
Depressão mata?
Ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 788 mil
pessoas tiraram suas próprias vidas – chegaram a uma dor insuportável a ponto
de se suicidarem – o maior motivo de mortes entre jovens de 15 a 29 anos em
2015. Tomo a liberdade de inferir que entre essas mortes podem figurar vítimas
que poderiam ser ajudadas por alguém próximo a elas, mas que por algum motivo
não percebeu a gravidade da doença ou, por falta de conhecimento – não
conseguiu dirigir a elas palavras de cura, de incentivo, ou até mesmo atitudes
de compreensão pela fase difícil que elas estavam enfrentando em suas vidas.
Os números são de 2015, o que mostra agora em 2019 uma
preocupação ainda maior, pois, segundo a mesma pesquisa, o número de doentes
com depressão aumentou 18,4% entre os anos de 2005 a 2015. Com isso, podemos
inferir que em nossos dias estes números são ainda maiores.
O que fazer em suspeitas de depressão?
Com tudo isso, o que podemos fazer se desconfiarmos que
existe alguém deprimido perto de nós?
A primeira coisa a fazer é respeitar o momento difícil que a
pessoa está passando. Evite julgar, dizer que você sabe o que ela está passando
– acredite, ninguém é capaz de saber o que o outro está passando em um momento
de depressão –, humilhar ou forçar a pessoa a fazer o que ela não está
desejando fazer. Isso significa que você precisa apoiar fortemente o doente.
Depois, é preciso procurar um especialista nesta área.
Podemos começar levando a pessoa a um psicólogo, pois este profissional está
preparado para identificar os sintomas, validar as suspeitas e iniciar o
tratamento adequado. Caso o quadro esteja muito grave, o próprio psicólogo
tomará a atitude de encaminhar o paciente para um psiquiatra, para iniciar um
tratamento mais forte, possivelmente, com uso de medicamentos que controlem a
depressão ou transtornos identificados. Você pode optar em levar a pessoa
diretamente ao médico psiquiatra, no entanto, creio que vale a pena iniciar
primeiramente o tratamento com um psicólogo, para que o paciente tenha a chance
de cura sem a administração de medicamentos controlados.
Depressão existe ou só acontece com quem não tem o que fazer?
Então, a resposta para a pergunta tema deste texto é:
depressão existem sim; atingia em 2015 um em cada dez pessoas no Brasil e 4,4%
da população mundial; e matou no mesmo ano 778 mil pessoas. Então, da próxima
vez que pensar em julgar alguém com sintomas de depressão, lembre-se destes
números e encaminhe-a imediatamente para um especialista.