Desde a idade da pedra, o homem tem buscado entender tudo aquilo que te cerca. Uma das maneiras de buscar este entendimento é através da religião. Professor de História mostra como esta busca incessante por divindades já trouxe profundas transformações em vários períodos da sociedade.
Criado em 1949 é celebrado no dia 21 de janeiro, o Dia Internacional da Religião foi instituído em uma época que o mundo ainda vivia as sequelas da 2ª Guerra Mundial e teve o objetivo de levar paz e tolerância a todo o mundo. A título de curiosidade, nesta mesma data no Brasil se comemora o Dia Contra a Intolerância Religiosa.
No entanto, conforme explica o professor de História, Ueldison Alves de Azevedo, o laicismo no Brasil só foi implementado com a mudança do sistema de governo, quando acabou o Império e iniciou a República, em 1889. “Ainda que a sociedade seja em sua maioria católica, o estado laico foi um avanço importante para a mistura de outras culturas e práticas de rituais em nosso meio”. Na atualidade, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o espiritismo cresceu no Brasil, ficando atrás somente do cristianismo que tem 87% dos fiéis, sendo 64% católico romano, oriunda da colonização portuguesa.
Como surgiu a religião?
Ueldison explica que a religião “é uma criação de nossos ancestrais, ainda na era paleolítica, onde os hominídeos realizavam seus respectivos rituais dentro das cavernas, desejando caçar os animais para sobrevivência, principalmente na estação de inverno, onde muitos deles fugiam procurando locais para a sobrevivência também”. Com a virada do paleolítico para o neolítico, por volta de 10.000 a.C, “a revolução da agricultura não traz apenas uma ideia revolucionária da plantação e colheita, mas tudo aquilo que estava certo para dentro do pensamento do homo-sapiens. Isso acabou acaba entrando em colapso e será muito importante para a consolidação da religião, pois através do não entendimento sobre a natureza, nós criamos deuses para explicar o até então inexplicável”, detalha o professor.
Por isso vale lembrar que a pedra angular para a formação da religião tem ligação direta com agricultura, “quando o homem começa a plantar as sementes e ao retornar ao local que plantou essas pequenas sementinhas, percebemos que elas deram frutos. A partir desse momento começamos a indagar:’ se eu crio algo, então quem foi que me criou?’. Pronto. Essa foi a pergunta fundamental para solidificar a religião, que vêm do latim religare ou relitium em grego, o que significa aquilo que me conecta com a divindade ou as divindades (politeismo)”, detalha o professor.
Religião no Brasil
Com a chegada dos portugueses em 1500, a formação religiosa foi de grande importância, onde se estabeleceu o primeiro momento educacional através da Companhia da Ordem de Jesus, criada por Inácio de Loyola no século XV. Ueldison lembra que, “se olharmos profundamente e atentamente ao passado, veremos que os jesuítas foram criados para exercer uma finalidade na Europa. Ao chegar no território brasileiro, tiveram uma missão a zelar, levando a catequização para as tribos indígenas, que também eram politeístas, canibais, e tudo era voltado aos seus deuses”. Além disso, “é interessante ressaltar que nesse contato entre europeus e povos nativos, os portugueses achavam que os indígenas eram pessoas que necessitavam ter suas almas recuperadas e só poderia realizar a ‘recuperação’ através do cristianismo”.
A formação da estrutura religiosa não parou por aí. Com a chegada dos negros da Guiné como escravos, os africanos trouxeram para o Brasil outros costumes religiosos. como o candomblé. “Essa religião, em específico, foi proibida de ser praticada até a década de 1930, quando Getúlio Vargas mandava os policiais militares perseguirem todos aqueles que praticavam seus ritos”, conta Ueldison. Alguns anos antes, no século XIX, “alguns grupos do candomblé passaram por uma fusão importante aderindo ao espiritismo kardecista que surge como movimento forte na França, denominada de mesa branca. A legalização do candomblé no Brasil ainda hoje não é vista com bons olhos pela sociedade brasileira, criamos falsas teorias quando escutamos sobre a macumba por exemplo”, destaca o professor.
Ueldison Alves reforça que a importância de se entender que “somos seres ritualísticos desde a idade da pedra. E assim continuaremos a ser, buscando respostas para o sentido da vida, existência e sobre a nossa criação. Não é novidade nenhuma que a religião também é um órgão político, já que se iniciou com rituais para sobrevivência, depois passou a controlar o mundo da idade média junto com os senhores feudais, e também assume uma participação decisiva na formação dos Estados Nacionais, tendo início com as reformas protestantes no século XVI, o que foi um momento de transição muito importante da idade média para moderna”, completa.
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