Por: L. Michael Morales. © Ligonier Ministries.
Os salmos de Davi estão cheios de desejo de permanecer na
presença de Deus, dentro de sua casa. No Salmo 26.8, Davi declara: “Eu amo,
SENHOR, a habitação de tua casa e o lugar onde tua glória assiste”. No salmo
seguinte, Davi professa que esse anseio é o impulso singular de seu coração,
dizendo: Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do
SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e
meditar no seu templo”. (27.4). Outro salmo, pelos filhos de Corá, expressa o
mesmo desejo não menos ardentemente: “Quão amáveis são os teus tabernáculos,
Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do SENHOR;
o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo”! e declara: “Bem-aventurados os que habitam
em tua casa”; (84.1–2,4). Tal anseio pela vida com Deus na casa de Deus conclui
o que talvez seja o mais conhecido e amado salmo: “E habitarei na casa do
SENHOR para sempre” (23.6).
Longe do sentimentalismo vazio, o desejo de Davi foi
alimentado por uma teologia robusta, por sua compreensão do caráter de Deus,
bem como de seus propósitos e promessas para o seu povo. De fato, tal esperança
de morar com Deus foi revelada pelo próprio Deus. Depois que Deus libertou
Israel através das águas do mar, Moisés conduziu o povo em uma canção
divinamente inspirada, que ensinava que o Senhor, em seu constante amor,
guiaria o povo que ele havia redimido, guiando-os para a “habitação da sua
santidade”, ainda no “santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram” (Êx
15.13,17). Israel havia sido redimido para morar com Deus. Maravilhosamente,
Davi entendeu que seu desejo de habitar com Deus era irrisório em comparação
com o zelo do próprio Senhor como aquele que – maravilha das maravilhas –
disse: “E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles” (Êx
25.8). Enquanto os peregrinos israelitas viajavam para Jerusalém para as festas
anuais, o templo de Salomão no Monte Sião servia como símbolo do propósito
final de Deus de habitar com o seu povo. Significativo para essa teologia, um
altar imponente e ensanguentado ficava no pátio antes da entrada da casa de
Deus.
No Salmo 23, Davi expõe a esperança de habitar com Deus de
uma maneira dupla. Primeiro, a casa de Deus é retratada como o fim da jornada
para o seu povo. Usando as imagens pastorais do êxodo em si, Davi retrata o
Senhor como seu pastor durante toda esta vida. As imagens então mudam para a de
hospitalidade: conforme a orientação culmina na chegada, o Pastor se torna o
anfitrião. Curiosamente, a transição da metáfora de uma ovelha liderada por seu
pastor para a de um convidado honrado por seu anfitrião ocorre “pelo do vale da
sombra da morte” (v. 4). Para Davi, então, a esperança de morar com Deus na
casa de Deus era uma realidade orientada para o futuro, uma escatologia. A
expectativa de David era certa, uma vez que ele, como pastor, entendia que a
chegada não era um fardo colocado sobre as ovelhas – temerosas, insensatas e
rebeldes como costumam ser. Em vez disso, a orientação, cuidado e proteção das
ovelhas, juntamente com a chegada ao seu destino, eram uma carga imposta ao
pastor.
Em segundo lugar, a casa de Deus é apresentada como o começo
da glória eterna. Para ser certeza, as delícias e alegrias da casa de Deus são
provadas nesta vida, especialmente entre as pessoas de Deus no culto do sábado.
Além disso, o Senhor realmente estendeu uma mesa no deserto durante as jornadas
de Israel, mas esses exemplos, abençoados como são, são meros prognósticos do
banquete que Deus preparou para o seu povo na “casa” de uma nova e gloriosa
criação. Untar a cabeça com óleo e despejar no cálice até transbordar são
descrições simbólicas destinadas a retratar a generosa hospitalidade (v. 5).
Deus é aqui descrito como um antigo anfitrião do Oriente Próximo que
generosamente honra e sacia seus convidados com abundância transbordante. Em
outro lugar, Davi desenvolve o conceito, dizendo que os filhos de Deus “Fartam-se
da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber”.
(Sl 36.8). A palavra que Davi usa aqui para “delícias” é construída a partir da
mesma raiz do Éden, o paraíso de Deus, onde a humanidade uma vez desfrutou das
delícias de sua comunhão. O fim de nossa jornada é também um novo começo, o
início da vida supremamente abençoada com Deus e seu povo em um paraíso mais
glorioso do que o Éden.
No entanto, mesmo “convidado de honra” não capta
suficientemente nem a esperança de Davi nem sua essência. Essa generosa
hospitalidade é, abundantemente, derramada sobre filhos e filhas. Através da
obra expiatória de Jesus Cristo e da união com ele pelo Espírito Santo, os
pecadores podem se tornar os filhos e a casa de Deus, nascidos de Deus (Jo
1.12-13; Ef 2.19). Como o retorno do Filho Pródigo consumado em um abraço
prolongado por seu pai ofegante, também o fim de nossa jornada e o início da
eternidade são realmente uma volta para casa – e ainda existem “vazios” na casa
de Deus até que todos os seus filhos voltem para casa. Liderados pelo Bom
Pastor, o Senhor Jesus Cristo, que entregou a vida por suas ovelhas, o povo de
Deus entrará, de fato, pelos seus portões, com ações de graças e em seus átrios
com louvor (João 10.1–18; veja Sl 100).
*Fonte: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: And I Shall Dwell in the House of the Lord Forever. Original: E habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.