Apóstolo Cesar Augusto, fundador da igreja evangélica Fonte da Vida. (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress)
O encontro de bispos católicos dos vários países da região amazônica
que começou no domingo (6), vai discutir a evangelização local, bem como temas
ligados à proteção dos povos indígenas e ao meio ambiente.
Para o apóstolo Cesar Augusto, 63, fundador da Igreja Fonte
da Vida, o presidente Jair Bolsonaro tem razão ao dizer que a Igreja Católica
prepara um ato político com o Sínodo da Amazônia. “Não está certo tratar de um
assunto que interfere diretamente em questões internas do Brasil”, afirma.
“Cabe ao governo e ao povo brasileiro cuidar da biodiversidade e do ecossistema,
e também da possibilidade de explorar as riquezas a bem do país.”
Segundo o apóstolo, o Vaticano tem interesse na
internacionalização da Amazônia. “O Vaticano é um Estado, possui banco,
governo, embaixadores, e tem uma forte influência na forma como tem sido
conduzida a exploração indevida daquela região”, diz. “A hora é inoportuna. Sei
que esse sínodo foi marcado em 2017, mas tratar de um assunto que interfere
diretamente em questões internas do Brasil nesse momento não está certo. A
maneira como se organiza e os temas de debate visam trazer ingerência externa
contra a soberania nacional. A Amazônia é do Brasil. Cabe ao governo brasileiro
e ao povo brasileiro cuidar da biodiversidade e do ecossistema. E também da
possibilidade de explorar as riquezas a bem do país”, disse o apóstolo em
entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Para ele, a Igreja Católica tem interesse na
internacionalização da Amazônia. “O Vaticano é um Estado, possui banco,
governo, embaixadores, e tem uma forte influência na forma como tem sido
conduzida a exploração indevida daquela região”, afirma
“É um Estado soberano que representa interesses de outras
nações, e nós precisamos nos questionar: por que uma concentração tão grande de
interesse numa região tão rica enquanto no sertão nordestino, pobre e
desalentado, nunca fizeram nem uma conferência?”, continua.
“Veja bem, os evangélicos representam hoje uma presença em
53% das nações indígenas. E não há nenhum relato de interferência desses
cristãos atuando contra os interesses da nação. Uma coisa é levar o evangelho,
cuidar dos pobres e dos frágeis. Outra é defender uma ideologia e uma política
estranha à soberania da nação que os acolhe.”, conclui o apóstolo.
Para Cesar Augusto, o desmatamento da Amazônia é um problema
real. “Sempre foi um problema. Desde o descobrimento do Brasil até o presente
momento. De 1990 a 2003 as taxas eram alarmantes, o que se repetiu de 2012 a
2013. Hoje temos enfrentado um grande desafio das queimadas em parte por conta
de diversos fatores, entre eles a ocupação desordenada que tem causas
históricas. Acredito que, na medida em que houver uma proposta de
desenvolvimento sustentável para região, haverá uma melhora nesse problema”.
Religiosidade deve ser requisito para uma escolha desse
tipo?
Nunca ouvi o presidente dizer que se limitasse a escolher
com base na religiosidade. Acredito que ele estava se referindo a valores. A
par desses requisitos, entendo que o presidente está citando contemplar
juristas que possuam também valores conservadores em relação à família, à vida
e aos costumes.
Profissionais reconhecidos como o dr. André Mendonça, da AGU
[Advocacia-Geral da União], o juiz Marcelo Bretas ou o advogado Ricardo Sayeg,
o juiz federal Willian Douglas e o promotor de Justiça de Goiás Cristiano
Motta. Enfim, existem diversas pessoas qualificadas dentro da Constituição e
nas expectativas conservadoras da nação. Todos com idade apropriada, notável
saber jurídico e honra ilibada.
Em junho, o STF equiparou a homofobia a crime de racismo.
Qual a sua opinião a respeito?
Creio que era um assunto próprio para o Congresso, como
representante da diversidade de pensamento de todos os cidadãos. Não vejo
homofobia e racismo na mesma ótica. Acho que a homofobia é uma reação agressiva
quanto a escolha da pessoa. Já o racismo agride a pessoa pelo que ela é
originalmente.
Todos são iguais em direitos e obrigações e devem ser
acolhidos pelo Estado e suas instituições protetivas de forma igualitária. Há
na malha social outras distinções que não gozam das mesmas prioridades apesar
de também padecerem sofrimentos.
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, mandou recolher uma
história em quadrinhos que tinha a imagem de um beijo gay. Foi um ato de
censura? Foi um ato homofóbico?
Foi um ato de gestão administrativa. Há uma determinação
legal pelo Estatuto da Criança do Adolescente (ECA), que determina que deveria
haver lacre e identificação do conteúdo. O prefeito cumpriu a lei.
Como o senhor lida com um eventual fiel que se declara
homossexual? A igreja tenta convertê-lo?
A igreja acolhe. O ser humano e suas diversas formas de ser
e se expressar sempre serão acolhidos e bem recebidos na igreja. Mas há certas
práticas que são frontalmente contrárias à natureza humana, e a palavra de Deus
nos alerta sobre isso. Mas não cabe a igreja, nem a ninguém, julgar, mas também
não podemos ficar alheios à função profética da igreja que é anunciar a palavra
independente dos conceitos humanos.
Qual a sua opinião sobre a conduta do governador Doria no
episódio das apostilas que falava sobre diversidade sexual? Primeiro, ele
mandou recolher. Depois, desistiu de recorrer da decisão judicial que ordenou a
devolução.
O meio evangélico aprova valores, e não pessoas. As pessoas
que se posicionam nos valores que acreditamos terão sempre nosso apoio. Nesse
caso específico, as autoridades competentes devem resguardar a inocência das
crianças e adolescentes.
*Fonte: Folha de S. Paulo