A situação é caótica a todos os civis, mas principalmente a cristãos que são forçados a fugir de suas cidades, abandonando casas, criações e plantações. Conheça Tun e Lhing cristãos perseguidos no Mianmar
Desde o golpe militar perpetrado em 1º de fevereiro de 2021, o cidadão de Mianmar, cristãos principalmente, vivem em constante alerta e sob risco de prisão, tortura e morte.
A guerra entre os militares e os grupos da Força de Defesa do Povo (PDF, da sigla em inglês) tem tornado a vida extremamente difícil para os civis em Mianmar. Cristãos no país sofrem ainda mais devido à discriminação preexistente e o contínuo sentimento anticristão. Diversas famílias cristãs que moram em vilas que estão em zonas de guerra tentaram se mudar para locais mais pacíficos. Entretanto, acabaram voltando para a própria vila e vivendo no mesmo ambiente inseguro de antes devido aos muitos desafios encontrados no novo local.
Tun* e a esposa Lhing* são cristãos que vivem em Mianmar. Em 2018, conduziam estudos bíblicos em casa com os vizinhos. Na época, eles tinham no quintal fileiras e mais fileiras de cana-de-açúcar prontas para serem colhidas, além de cabras, galinhas e porcos. Ele produzia tudo isso com o conhecimento aprendido em um treinamento da Portas Abertas. Apesar disso, agora Tun é um refugiado.
Quando os militares assumiram o controle do governo de Mianmar em 2021, a vida de Tun virou de cabeça para baixo. Tun sabia que cedo ou tarde, um massacre chegaria a sua cidade. E não passou muito tempo até que tanques militares chegassem e ele, a esposa e os três filhos fossem forçados a fugir por segurança.
Até hoje, Tun e a família ainda não puderam voltar para casa. Ele já está refugiado há dois anos. “Nós tivemos medo e buscamos um jeito de escapar”, explica. Ele estava em casa no dia 1 de fevereiro de 2021, quando os militares anunciaram o golpe. “Naquele dia, todas as linhas telefônicas foram cortadas e não havia internet. Sentimos como se estivéssemos em outro lugar do mundo”.
Desde o golpe, as tensões na vizinhança de Tun cresceram. Protestos encheram as ruas com pessoas gritando por justiça e liberdade. As pessoas odiavam os militares e queriam a democracia de volta. Em março, a junta militar atirou na cabeça de um manifestante, levando civis a pegar em armas e formar a Força de Defesa do Povo (PDF, da sigla em inglês). Em abril, Tun e sua família planejaram a fuga. Foi uma operação de dois dias. “Na manhã do primeiro dia, minha esposa e eu investigamos a estrada para descobrir onde os militares estavam. Quando confirmamos qual caminho era seguro, empacotamos nossos bens e necessidades de emergência”.
No dia seguinte, Tun e Lhing levaram os três filhos em duas motos. “Levamos apenas sacolas bem pequenas. Pegamos uma camisa para o dia e outra para a noite. Se carregássemos muitas roupas, sacolas e outras coisas, os militares nos postos de controle não nos permitiriam sair da cidade”. Eles fizeram parecer como se estivessem saindo apenas para um passeio de um dia, mas Tun e a família não voltaram.
Ao chegarem a um local seguro, Tun pediu por ajuda. “Deus preparou amigos e parceiros para cuidarem de nós e nos receberem”, compartilhou.
Ataques somente a igrejas cristãs
Desde o golpe de 2021, a repressão às igrejas e a profanação de propriedades cristãs em Mianmar se intensificaram. “Quando o golpe começou, as forças da junta militar invadiram igrejas, para bombardeá-las, incendiá-las, pegar todo o dinheiro ou quebrar as janelas”.
Tun lamenta: “Sem nenhum respeito, eles apenas destruíram igrejas, porém deixaram as pagodas (templos de determinado estilo arquitetônico) intocáveis. Em nossa vizinhança, nem mesmo uma única bala atingiu pagodas budistas e santuários. Então, esse golpe, podemos dizer que, de forma direta e indireta, é perseguição”.
Todos esses ataques geram medo entre os cristãos das tribos Chin e Kachin, de onde Tun vem. “Algumas igrejas ainda não podem se reunir para cultuar porque o prédio foi marcado com tinta vermelha. Os que se reunirem para cultuar, serão baleados pelo exército ou presos pela polícia. Se o combate ocorre perto de uma igreja e ficam com raiva, incendeiam a igreja”, explica.
Oportunidade de treinamento
Mesmo em meio ao deslocamento, Tun não fica à toa. Ele e a família estão em um abrigo temporário com mais de dois mil deslocados cristãos. Lá ele encontrou oportunidades para ministrar. “Todos os meios de sobrevivência se foram. Além de estarem sem emprego desde o golpe, a pandemia aconteceu. Eles já gastaram as economias e agora se esforçam pelo alimento diário. Já venderam terrenos, brincos, colares de ouro, tudo para sobreviver”.
Ele conta que os cristãos fazem de tudo para arranjar meios de subsistência. Vendem carne de javali e legumes que encontram na floresta.
Para ajudar ainda mais os companheiros cristãos, Tun dá a eles treinamentos de subsistência e também oferece treinamentos de preparação para a perseguição e tem se maravilhado como os cristãos têm sido transformados e que trocaram a ira por perdão.
Ele pede aos cristãos de todo o mundo que continuem de joelhos pelo país: “Continuem orando pelo país e orem pelos cristãos daqui. Minha oração é que um dia, Min Aung Hlaing, líder do golpe, também aceite a Jesus. Essa é minha esperança e confiança, é por isso que oro”.
A perseguição aos cristãos em Mianmar
Nas últimas décadas, a perseguição aos cristãos, especialmente nos estados Chin e Kachin, tem sido sistêmica. Quase 90% da população nessas áreas é cristã, e os militares budistas de Mianmar realizam perseguição e abusos contra os seguidores de Jesus, fechando igrejas e agredindo quem não renuncia a fé.
O país está em 14º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2023, que classifica os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos.
Saiba como ajudar o cristão perseguido no Mianmar em www.portasabertas.org.br
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