Leandro Tarrataca*
Talvez seja apenas um desabafo, mas a ira nasce em meu coração como um detector de que algo está insuportavelmente fétido e errado em nossa sociedade. Não me interprete mal, sou um pregador do amor de Cristo e de sua graça, no entanto como ouvir a dor das crianças abusadas, dos idosos roubados, das mais sórdidas maquinações de exploração do próximo e permanecer indiferente? Não empunhou Cristo seu azorrague, virou mesas, expulsou vendilhões cafajestes? A ira é legítima e, ainda mais, necessária! A ira é um traço da imagem de Deus em nós que clama por justiça, a capacidade de indignação é uma dádiva. Por outro lado, reconheço o risco dessa sensação incandescente desembocar em vingança e incendiar a todos, pois vingança é fogo que consome e carboniza até mesmo inocentes. A sensata sabedoria apostólica nos diz, “não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.” (Romanos 12:19ss) E ainda, “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Efésios 4:26)
Deixe que salte diante dos seus olhos:
“Daí lugar à ira”
“irai-vos”
A ira é um sentimento legítimo que deveria nos fazer desejar justiça. Meu desabafo feito, agora meu breve esboço de como devemos lidar piedosamente com a ira:
Ore. A bíblia é repleta de salmos que nos ensinam a esvaziar o peito clamando a Deus por Justiça. (Salmos 35, 58, 59, 69, 83, 109, 137, 140)
Busque as autoridades constituídas. Deus estabeleceu o estado como um de seus instrumentos para fazer valer a justiça. (Romanos 13: 4)
Busque orientação e mediação eclesiástica. Um cristão que se sente ressentido ou lesado por outro, deve buscar o conselho e discernimento da justiça intracorpus.
Confie na justiça de Deus!
Quando todas as instâncias desse lado da eternidade falharem, confie na justiça divina, pois o justo juiz de toda terra fará valer a justiça. É inescapável o fato de que Deus julgará os injustos. Nosso Cristo não é um pálido indiferente Salvador, Ele mesmo será o Juiz escatológico de todos os homens. Paulo escreve: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino.” (2 Timóteo 4:1)
Eu não quero estar nem perto dos sapatos daqueles à quem Cristo julgará.
Cristo é amor, mas é justo, Salvador, mas também será o juiz escatológico de todos os homens e nEle meu coração encontra paz.
*Leandro Tarrataca é pastor, professor, mestre e doutor em Teologia.
www.leandrotarrataca.com