José Mauricio Passos Nepomuceno
Aprovada pela Câmara dos Deputados e sancionada em setembro de 2010 pelo então presidente Luis Inácio Lula da Silva, a lei 12.328 determina que o dia 30 de novembro é o Dia Nacional do Evangélico. Essa Lei estabelece um reconhecimento à importância da crença cristã evangélica à construção do caráter nacional.
O evangélico é alguém que assume uma crença cristã sem mediadores, seguindo a tradição do pensamento da Reforma Protestante do século XVI, que evocou a possibilidade de que o próprio crente busque a Deus diretamente, mediante uma crença pessoal em Cristo, não dependendo, para tanto, da Igreja, mas somente da fé e somente da Bíblia. O que forma a tríade fundamental do pensamento evangélico: somente a Fé, somente a Escritura e somente a Graça.
Até meados do século XX, os evangélicos eram uma minoria, às vezes desprezada, outras, incompreendida e até um tanto amorfa. No entanto, após tantas décadas de desprezo, desde a sua chegada no Brasil na última metade do século XIX, os evangélicos percebem seu vertiginoso crescimento, em particular após o final dos anos 70, em especial a partir do movimento pentecostal. Uma pesquisa de 2020, publicada pelo Instituto Datafolha, informa que os evangélicos alcançam 31% da população brasileira. O que importa dizer que, aproximadamente, 66 milhões de brasileiros se declaram evangélicos, o que, em números absolutos, é igual à população da França.
Os evangélicos têm produzido sua música, moda, participação social e política, além de promover mudanças profundas nas estruturas culturais do Brasil. Basta ouvir as entrevistas de jogadores de futebol, alguns artistas midiáticos e os novos pop-stars youtubers, perceberemos a proximidade da visão e do discurso evangélico permeando a nossa cultura e hábitos.
Evidentemente, muito se pode falar sobre a presença da ideia evangélica no Brasil e o que ela representa atualmente em todos os sentidos. Mas, é preciso falar sobre o amanhã evangélico. Afinal, devemos considerar que esse não é um movimento que está represado nos números da atualidade, mas seguem impressionando com a sua capacidade de multiplicação. Para muitos, antes de 2050, o número de evangélicos poderá superar o de católicos e se tornar a maior presença religiosa no país.
Ainda que estes prognósticos sejam somente estudos de tendências estatísticas, eles já nos dizem muito sobre a importância dessa grande massa de brasileiros que assumem posicionamentos religiosos, defesas de padrões morais, buscam estabelecer conexões sociais em seus grupos de encontros e em suas reuniões semanais nas igrejas. Estes números devem apontar para a necessidade de todos pensarmos melhor sobre o amanhã e sobre a nossa cultura brasileira do amanhã.
Os evangélicos estão procurando fazer uma reengenharia de sua própria concepção. Antes, encontrados em rincões mais empobrecidos e menos diplomados da população, hoje, os vemos buscando posições em diversos campos do conhecimento, assumindo funções de governança pública, cátedras universitárias e ocupando postos nas grandes empresas brasileiras, além da presença prestigiada de evangélicos no show business, atores, cantores, jornalistas, jogadores de futebol etc.
Certamente, o futuro da nação passa também pelo futuro dos evangélicos no Brasil. Ninguém pode duvidar de que é preciso um olhar mais apurado para os rumos que este movimento está tomando e para o surgimento de uma “nova inteligência evangélica”, com líderes do movimento tratando de compreender, interpretar e apontar caminhos para a sociedade e não somente para os ambientes litúrgicos.
Enfim, podemos pensar que o “amanhã evangélico” é grande e desafiador. O principal desafio é para o próprio povo evangélico que está em franca busca de se compreender e se definir, cada vez melhor. Também será necessário que toda a sociedade não evangélica comece a buscar essa compreensão para que desenvolvamos uma proposta uma sociedade baseada na liberdade e respeito, que foram os valores fundamentais pelos quais os evangélicos lutaram no início de sua jornada na terra brasileira.
Assim, ansiamos por ver como será o “amanhã evangélico” e como esse enorme contingente de brasileiros convictos de suas crenças ajudarão o país a se erguer como uma das maiores e mais vibrantes nações do globo.
José Mauricio Passos Nepomuceno é teólogo, mestre em Ciências da Religião e professor de Teologia Sistemática do Curso de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.
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