Rev. Augustus Nicodemus / Foto: Reprodução
Em entrevista exclusiva ao site Pleno.News durante a Conferência City to City: Um Grande Evangelho Para Uma Grande Cidade, que aconteceu na Igreja Batista do Recreio, na Zona Leste do Rio de Janeiro, o reverendo Augustus Nicodemus, tratou sobre diversas questões referentes à igreja e os efeitos da pós-modernidade.
Respeitado entre os estudiosos da Bíblia, Nicodemus traçou um paralelo desde os tempos da igreja primitiva até os atuais. Como bom apreciador das Escrituras, ele reforçou que somente uma vida cristã pautada pela Bíblia pode curar os males que têm atacado a igreja.
Como a igreja se deixou ser infiltrada por tantas deformidades?
Eu não creio que exista uma única razão, mas uma conjugação de motivos. O que nós estamos vendo agora é uma série de resultados de movimentos e de ideologias que nasceram no período do Iluminismo, cerca de 200 anos depois da Reforma Protestante. O Iluminismo questionava a autoridade da Religião e da Igreja sobre a sociedade e afirmava que o homem era capaz de responder as questões mais comuns por meio de seu próprio raciocínio.
Aos poucos, isso entrou na Igreja e o Racionalismo foi substituindo a confiança na revelação de Deus na Bíblia. Esse movimento apresentou um ataque fundamental aos pilares do Cristianismo e suas influências continuam até os dias de hoje. Com o tempo, ele foi substituído por um movimento contrário, representado pelo surgimento da Pós-Modernidade.
Enquanto o Racionalismo dizia que é pela razão que se encontra a verdade, a Pós-Modernidade diz que toda verdade é relativa, o que tem influenciado as filosofias, as artes, a economia, os costumes, os meios de comunicação e a sociedade em geral. O cinema e as redes sociais servem para divulgar esse pensamento de uma maneira terrível e acabou desaguando para dentro da Ireja, criando uma geração de evangélicos que têm dificuldades com conceitos de verdade absoluta e com o submeter-se à autoridade da Bíblia e com a ética cristã.
São pessoas que consideram que a verdade e a ética delas são relativas e que, portanto, vivem um Cristianismo fragilizado por falsos mestres e sem referencial. Isso que a gente está vendo agora é o resultado da gestação de todos esses movimentos que começaram há séculos e que agora impactam não só a Igreja brasileira, mas a Igreja mundial.
Caso estejamos diante do fim dos tempos, o que esperar?
Eu gostaria de poder responder essa pergunta, mas eu não sei. Durante toda história da Igreja, sempre houve períodos de trevas, onde se pensou que o fim haveria de chegar. No período medieval, por exemplo, quando a Igreja se desviou, de fato, do Evangelho de Cristo, criaram as indulgências, a ideia de penitência, a hierarquia católica, encabeçada por um Papa infalível, as relíquias, a ideia de purgatório. Tudo isso foi criado e afastou a Igreja do Evangelho simples, criado pelos apóstolos.
Alguém que vivia naquela época devia dizer: “Não pode ficar pior do que está”. E Deus, de repente, levanta um monge agostiniano chamado Martinho Lutero, que pregou aquelas 95 teses no Castelo de Gutenberg. Aquele homem fez uma mudança não só na Alemanha, mas no mundo. Se a gente vivesse naquela época, antes de Lutero, a gente provavelmente ia dizer :“Não pode ficar pior, é o fim dos tempos, chegou o final” e, de repente, não era.
Por isso, eu não tenho condições de dizer. Parece difícil, parece ruim a gente olhar e pensar que “não pode ficar pior”. Mas Deus sempre surpreende. Pode ser que tenhamos mais tempo até que o Senhor Jesus venha.
Como avalia algumas polêmicas levantadas dentro da igreja, um assunto abordado em seu livro Polêmicas na Igreja, de 2015?
Quando eu falo da Igreja Evangélica, da Igreja Cristã, estou me referindo ao Protestantismo. Estou deixando de lado a Igreja Católica e aquelas chamadas seitas cristãs. Me refiro aos protestantes, aquelas denominações tradicionais, batistas, presbiterianas, luteranas. Depois, as igrejas que surgiram com o movimento pentecostal, como a Assembleia de Deus. E depois as chamadas neopentecostais.
Olhando para isso aí, a gente percebe que existe uma polêmica sobre alguns pontos, alguns mais graves e outros menos. Existe a polêmica da questão do batismo pelo Espírito Santo: O que é? Como acontece? Quais são as evidências e sinais disso? Existe outra polêmica em torno de apóstolos: Existem ainda apóstolos como os 12 e Paulo? Se existe, quais seriam as características deles e qual a função deles nesse período avançado da História da Igreja? São verdadeiros apóstolos ou não?
A questão de culto dá mais polêmica: O que é que pode no culto? Podemos introduzir novas ações no culto? Deus se agrada do culto, desde que ele seja sincero, não importa o que a gente esteja fazendo? O que importa é sinceridade? Vai ter um grupo de protestantes que vão dizer que, se houver sinceridade, o culto é aceitável a Deus, mas terá outro que vai dizer “não, espera aí”.
Há princípios para o culto. Não podemos adorar a Deus de qualquer maneira. As pessoas adoravam a Deus da forma que queriam, como os dois filhos de Arão, no Antigo Testamento, trazendo fogo estranho. Deus não aceitou! Deus não aceitava culto que era feito de qualquer forma e Paulo regulamenta o culto na igreja de Corinto.
Tem muita polêmica a respeito do ministério pastoral: O que faz um pastor? Qual a função do pastor? Há muita polêmica sobre a prestação de contas do pastor: O pastor responde a quem? E se ele fundou a igreja, não tem ninguém acima dele?
A igreja é marcada por uma série de polêmicas. Quando escrevi aquela obra, eu tinha como objetivo expressar a minha opinião sobre essas polêmicas na crença de que o que eu falo está dentro do Cristianismo histórico tradicional. Mas são essas polêmicas que infestam a igreja e que trazem discussão e atraso.
E como essas polêmicas podem ser resolvidas?
Eu não creio que elas possam ser resolvidas. Algumas dessas polêmicas são antiquíssimas. Por exemplo, soberania de Deus e responsabilidade humana, predestinação e livre arbítrio. Isso é discutido desde a Reforma Protestante. Forma de batismo: imersão ou aspersão? Pode batizar crianças ou não pode? Discussões que vem desde o período dos pais da Igreja.
Não creio que haverá um fim. O que a gente pode fazer para manter a sanidade é identificar e se relacionar com aqueles grupos que mantém a confissão nos pontos fundamentais do Cristianismo. Mas aqueles grupos que negam as verdades centrais do Evangelho, com esses não dá para ter comunhão.
Como o senhor interpreta as batalhas espirituais?
Eu vejo mais de uma maneira teológica e que existe uma guerra espiritual acontecendo. Os meios, métodos e instruções para que participemos dela estão muito bem delineados pelo apóstolo Paulo em Efésios 6, quando ele fala armadura de Deus.
O apóstolo Paulo vê a batalha espiritual muito mais como forma de resistência do que de ataque. O cristão é visto como um guerreiro que está armado em posição de defesa. Ele está com escudo e com a espada para se defender. Paulo diz “para que ele possa se defender das astutas ciladas do diabo e das suas setas inflamadas”. A ordem é resistir! Para mim, isso que é batalha espiritual. É você se revestir da armadura de Deus para resistir aos ataques do diabo, que vem através das tentações, dos falsos profetas, dos falsos ensinamentos.
Já o outro lado, é místico. É ver o cristão partindo para a batalha, desentocando o demônio, amarrando pelo nome, repreendendo. Eu não vejo isso no Novo Testamento. Eu creio que a batalha espiritual é você resistir ao diabo e ele vai fugir. É dizer não para as tentações.
Como vê essa questão do suicídio dentro da igreja e, principalmente, entre pastores?
O suicídio de cristãos e pastores não tem uma causa só. Cada caso é um caso. Tem caso de suicídio que é resultado de uso de remédios que tem efeito depressivo. E isso é constatado. Tem suicídio que é causado por uma visão incorreta do ministério pastoral, onde pastores que são cobrados para bater meta, se frustram e isso gera um sentimento de culpa. A teologia desse pastor não é a teologia da graça, que comporta fracassos e incluiu frustrados.
Há uma série de razões para que isso aconteça e é lamentável. O que não pode dizer é que todo cristão ou pastor que se suicida não eram cristãos. O que a gente pode fazer é pedir a Deus que tenha misericórdia. Precisamos cuidar da igreja e da saúde dos pastores para que isso não aconteça. Às vezes, a igreja adoece os pastores com cobranças indevidas e com expectativas de ministério que são irreais, causando esse tipo de coisa.
E quais seriam as principais ferramentas para que esse grande Evangelho alcance cristãos diante de tanto perigo na Igreja?
Creio que a principal ferramenta é a pregação expositiva. Parte dos pastores abrirem as Bíblias e exporem o que ela ensina a respeito desse grandioso sacrifício de Cristo na cruz e do seu perdão imensurável. Se os pastores ensinam esse grande Evangelho ao povo, então isso aí vai curar, basicamente, todos os males que acometem a Igreja de hoje. O que tem faltado é pregação bíblica. Se a Bíblia for exposta e ensinada, muita coisa vai mudar.
*Fonte: Pleno News.