Nos tempos em que nos tornamos cada vez mais dependentes da tecnologia, é difícil calcular os dados que uma grande tempestade solar pode nos causar — e ela pode chegar em algum momento nos próximos anos. Ela não causará o fim da vida na Terra, mas pode nos deixar sem satélites de telecomunicação e GPS, o que resultaria em uma série de problemas preocupantes. E a tempestade solar mais forte vista em anos acabou de acontecer, sem que ninguém sequer percebesse.
Esses fenômenos são imprevisíveis e podem nos pegar de surpresa. Do mesmo modo que não soubemos da tempestade solar que nos acometeu há poucos dias, podemos acordar em meio a um pequeno caos. A falta de GPS transformaria automóveis autônomos em ameaças em potencial; a ausência de sinais de satélite comprometeria voos; curtos-circuitos e queima de equipamentos poderiam causar acidentes; panes em sistemas elétricos e redes de distribuição de energia deixariam cidades inteiras em um apagão que poderia durar horas.
Isso já aconteceu antes, então não se trata de nenhuma novidade, o que por um lado nos deixa um pouco mais tranquilos. Se a vida na Terra se manteve intocável pelas tais tempestades solares ao longo dos últimos 3500 milhões de anos, não há risco de nenhuma extinção em massa. Também é pouco provável um fenômeno desses causar um caos em todo o planeta, pois apenas algumas regiões são afetadas, geralmente o norte do planeta.
A diferença entre as grandes tempestades das décadas passadas — que prejudicaram transformadores de energia e transmissões de rádio, por exemplo — é o estilo de vida atual altamente tecnológico. Há muito mais circuitos integrados, computadores de bordo, foguetes, e até um laboratório científico no espaço, a Estação Espacial Internacional. Só em casos extremos é que as tempestades levariam prejuízos maiores, mas não é necessária uma lista muito longa de estragos em potencial para compreendermos a importância do assunto e da atenção redobrada ao clima espacial.
Na tempestade que nos atingiu dias atrás, foram milhões de toneladas de gás superaquecido disparados da superfície do Sol através de uma ejeção de massa coronal em direção ao Sistema Solar, em uma trajetória que incluiu nosso planeta. Não houve perigo algum, mas há um certo “alerta amarelo” acionado para os pesquisadores cientes de que o Sol já iniciou seu novo ciclo de 11 anos, e estará no máximo de sua atividade por volta de 2025.
Para evitar catástrofes em potencial, os cientistas investigam o Sol em busca dos segredos de sua mecânica para, assim, serem capazes de prever uma tempestade solar com alguns dias de antecedência. Isso daria às autoridades tempo para tomar providências de redução de danos. Além disso, a administração de alguns países, como os EUA, já possuem uma estratégia elaborada para aumentar a conscientização sobre os perigos das enormes tempestades solares e avaliar os riscos que elas representam.
Mas o que poderia ser feito caso os cientistas puderem prever as grandes tempestades solares? Algumas medidas poderiam ser tomadas, como preparar empresas para o apagão e garantir que haja tempo hábil para fazer backup de sistemas. No Reino Unido, a National Grid está aumentando seu fornecimento de transformadores e realizando exercícios para que as equipes possam lidar com essas tempestades geomagnéticas. Por fim, desligar os satélites e equipamentos eletrônicos por algumas horas poderiam salvar muitos deles, senão todos.
Infelizmente, ainda há um grande número “de pessoas e empresas que pensam que o clima espacial é ficção de Hollywood”, de acordo com Caitlin Durkovich, assistente especial do presidente, Joe Biden, e diretora sênior de resiliência e resposta do Conselho de Segurança Nacional, durante uma palestra em uma conferência sobre o clima solar no mês passado.
Já William Murtagh, diretor do Centro de Previsão do Clima Espacial dos EUA, lembra que “nossa capacidade de compreender e prever o ciclo solar ainda é muito limitada”, e isso torna ainda mais importante o investimento na ciência. As tempestades solares podem não ser um grande perigo iminente, mas quanto antes aprendermos a lidar com elas, melhor.
Fonte: Phys.org