Ou a parte “remanescente fiel” (para usar expressão bem típica) levanta a voz em denúncia, ou estamos fadados a, em nome de uma suposta “agregação”, sermos cúmplices da carnificina hedionda e malévola que se espalha pelo país
Há muito que o protestantismo no Brasil atravessa uma crise ética. Escândalo após escândalo, crime após crime, que vão desde as “simples ovelhas” fazendo sinal de arminha com a mão a pastores que fazem uso das armas de verdade para matarem oponentes ou aqueles que atravessam o seu caminho em busca de poder. Desde a luta insana contra a inexistente “ideologia de gênero” ao Ministro da Educação que protela e atrapalha investigação de uma faculdade ligada à sua denominação, a Igreja Presbiteriana.
Não é de hoje que lutamos contra essa perversidade fantasiada de conservadorismo e que leva atrás de si muita gente que confia cegamente em seus falsos pastores, o que só reforça a figura bíblica denunciada por Jesus de guias cegos guiando outros cegos, e o fim é o mesmo: ambos cairão no caminho.
A ética vigente é a do lucro desmedido, do poder pelo poder e do ódio ao que lhe é diverso. O monoteísmo é transformado em monocultura, e uma cultura da perversidade, da destruição de inimigos, da morte dos já condenados pelo simulacro de deus que criaram, que emana somente desgraça e condenação por onde passa. Tudo passa a ser absoluto e absolutista diante desse deus que deseja estar “acima de todos”. Nada mais distante do Evangelho!
A luta pela perpetuação no poder em troca de quaisquer posições íntegras faz com que a deterioração do movimento evangélico-protestante no país vire, a cada momento, motivo de piada, desprezo e vergonha! Inventam uma pseudoperseguição que nada mais é senão a reação aos desmandos e absurdos propalados por seus principais porta-vozes, donos de redes de mídias e pastores-empresários milionários às custas do suor do povo sofrido e pobre, cada vez mais empobrecido e aniquilado por uma política de morte, a necropolítica que tem como alvos preferenciais pobres e pretos.
Não dá mais para compactuar com o espírito neofascista de boa parte da igreja brasileira. Católicos e evangélicos vendidos ao bolsonarismo, ao ódio, ao preconceito e a tudo de ruim que hoje parece vicejar em terras brasileiras. É uma tristeza imensa, como pastor e cristão, perceber essas pessoas pervertendo a fé, amantes e maiores propagadores de mentiras deslavadas, abraçando uma cultura de morte e horror e, o pior e inimaginável, fazendo tudo isso “em nome de Deus”.
Ou a parte “remanescente fiel” (para usar uma expressão bem típica) levanta a voz em denúncia ou estamos fadados a, em nome de uma suposta “agregação” sermos cúmplices da carnificina hedionda e malévola que se espalha por nosso país. Pastores que, em nome da “boa convivência” são omissos e se calam nesse momento têm suas mãos tão sujas de sangue quanto Malafaias, Macedos, Valadões, batistas e presbiterianos que fecham vergonhosamente com essa corja que está no poder.
Se ainda há esperança, abracemos essa chance e não percamos a fé e nem o Evangelho de vida e resistência que nos foi entregue. Não dá mais pra segurar! É agora ou nunca… E o que é morno está prestes a ser vomitado, não só por Deus, mas pela sociedade que não suporta mais tanta morte e descaso. Que nosso luto se transforme em luta e que seja o bom combate, aquele que, mesmo acabando a carreira, guarda a fé!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum
Fonte: Revista Fórum