Um pastor passou anos discipulando uma assassina que se arrependeu na prisão.
Quando John Fransisco tinha 16 anos, na década de 1970, ele era encarregado de bater de porta em porta para convidar as pessoas a “pegar o ônibus para a igreja”, como parte de uma ação evangelística da Assembleia de Deus Central em Tulsa, Oklahoma (EUA).
Ele fez o convite nas casas por dois anos, até que sua vida seguiu outro rumo: Fransisco foi para a faculdade, se casou, criou três filhos, serviu como pastor e missionário. O que ele não imaginava é que sua caminhada ministerial iria se deparar novamente com uma das casas que ele havia visitado no passado.
Em 2004, um crime chocou os Estados Unidos: Lisa Marie Montgomery foi condenada à morte por matar estrangulada uma grávida de oito meses e usar uma faca para cortar seu abdômen, fazer o parto e assim tomar o bebê.
O que deixou Fransisco surpreso foi saber que a autora do crime era uma criança que ele levou para o ônibus da igreja 37 anos atrás. Na época, Lisa tinha 7 anos e sua irmã, Patty, 6.
“As meninas foram duas das minhas passageiras mais fiéis”, disse Fransisco à AG News. “Embora eu tenha perdido contato com o pessoal do ônibus, eu sempre orava por eles, especialmente pela Lisa e Patty”.
A advogada do caso procurou Fransisco para testemunhar sobre a infância de Lisa no processo. Naquele instante, ele entendeu que sua visita à “casinha marrom” da família Montgomery décadas atrás não foi um acidente — Deus tinha um propósito nisso.
“O Senhor me levou até a porta daquela casa”, afirma Fransisco. “Minha presença na vida da Lisa não acabou quando eu saí de Tulsa. Meu chamado para ajudá-la estava apenas começando.”
Em seu encontro com a advogada, as lembranças vieram à tona em Fransisco. Ele foi tomado de compaixão por Lisa e sentiu vontade de visitá-la. A advogada o informou que as chances de visitas eram quase nulas — já que ela estava no corredor da morte.
“Não desanimei”, lembra Fransisco. “Sabia em meu coração que Deus ia prover uma maneira de fazer isso acontecer.”
Ministério de cartas
Levou um ano para Fransisco conseguir o endereço do presídio onde estava Lisa. Seis dias depois, ele recebeu uma carta de volta — ela não só se lembrava dele, mas também de sua mãe, que havia sido sua professora da escola dominical. “Foi como um sinal do Senhor de que estava no caminho certo”, conta.
O foco de Fransisco estava em redimir sua alma, mesmo sem entender as motivações de seu crime horrendo. “Eu não perguntei a ela o ‘por que’”, conta. “Deus me enviou em uma missão.”
Os meses de correspondência se transformaram em anos. Fransisco enviou livros e Bíblias para Lisa, que se tornou uma leitora ávida. Ela também começou a baixar louvores para ouvir em um MP3 player fornecido pela prisão. Com o passar do tempo, ela começou a crescer em seu relacionamento com Cristo.
Em uma carta, ela escreveu: “Tenho uma lista de orações coladas na parede ao lado da minha cama, para que eu possa sempre olhar e orar a respeito. Tenho essa sensação de paz porque não preciso me preocupar com tudo. Está nas mãos de Deus e Ele nunca bagunça as coisas.”
Lisa começou a compartilhar sua fé com outras presidiárias e produzir luvas, cobertores e sapatinhos para pessoas necessitadas, assim como para membros da família, inclusive para Fransisco usar e distribuir.
A visita
Fransisco foi autorizado a visitar Lisa na prisão em agosto de 2014, durante um período de dois dias. Naquela época, Lisa já estava na prisão há mais de 10 anos.
“Nossa conversa foi difícil no início”, relembra Fransisco. “Fazia 40 anos que não nos víamos, quando ela era pequena e eu adolescente.”
Mas com o passar do tempo, a conversa começou a fluir. Lisa compartilhou sobre a vida na prisão e revelou que os anos na igreja foram os melhores e mais felizes de sua vida. Ela também contou que foi abusada sexualmente por seu padrasto, com o conhecimento de sua mãe.
No entanto, incapaz de mudar seu passado, Lisa continuou acreditando que Deus tinha um propósito especial para sua vida, quer ela vivesse ou morresse.
Enfrentando a morte
Com a data de execução de Lisa se aproximando, em janeiro de 2021, Fransisco viajou até Terre Haute, em Indiana, onde prisioneiros no corredor da morte são executados. O missionário combinou com o capelão de realizar a Santa Ceia com ela instantes antes de sua morte.
Fransisco foi informado de que poderia acompanhar Lisa até a câmara de execução para orar e cantar hinos, enquanto ela era executada. Mas no último minuto, a permissão foi rescindida.
“Eu não queria testemunhar isso, mas tinha feito uma promessa. Deus havia predeterminado meu pequeno papel nesta história 47 anos antes. Apesar do nó no estômago, tive uma sensação sobrenatural de paz. Eu sabia que o destino final de Lisa não era a câmara de execução. Seu lar para sempre seria o céu. Ela iria encontrar seu Salvador face a face em alguns instantes. Seria o novo começo pelo qual ela tanto ansiava”, disse ele.
Graça ‘injusta’
“A transformação de Lisa foi uma obra do Espírito Santo, demonstrada pelos maravilhosos atos de bondade que dominaram os últimos anos de sua vida”, observa Fransisco. “Até os filhos dela notaram as mudanças.” No final, sua família passou a amá-la de verdade.
Embora Fransisco tenha aprendido a amar Lisa como uma filha, ele também reconhece as terríveis consequências do pecado — para os familiares da vítima e de Lisa.
“Alguns acreditam que Deus perdoando um ato hediondo como o de Lisa não é justo — e não é”, diz Fransisco. “Mas não é essa a definição de graça: o céu seria completamente vazio sem a graça de Deus. Então, sim, o perdão e a graça de Deus não são justos e, por isso, todos devemos ser eternamente gratos.”
Fonte: Guia-me