Vendedoras de acarajé que se converteram ao cristianismo evangélico começaram a renomear o quitute como “bolinho de Jesus” na Bahia, especialmente em Salvador, durante os anos 2010. A mudança gerou tensões entre evangélicos e praticantes de religiões afro-brasileiras, como o Candomblé, que consideram o alimento sagrado.
O acarajé, feito de feijão-fradinho e frito no azeite de dendê, é tradicionalmente associado à orixá Iansã. Nas religiões afro-brasileiras, ele é oferecido em rituais religiosos e vendido por baianas do acarajé, que seguem regras específicas sobre o preparo e vestimenta.
Com o crescimento da população evangélica no Brasil, especialmente entre pessoas negras, muitas vendedoras passaram a questionar a ligação do acarajé com práticas espirituais. Algumas se recusaram a usar símbolos do Candomblé e adotaram nomes religiosos para seus pontos de venda, como “Acarajé Gospel”.
Líderes religiosos afro-brasileiros denunciam a tentativa de desvincular o acarajé de sua origem como uma forma de racismo e intolerância religiosa. Para o babalorixá Pai Rodney de Oxóssi, negar o caráter sagrado do prato é apagar a história e a resistência cultural dos negros no Brasil.
Por outro lado, pastores evangélicos justificam a mudança com base em crenças religiosas. Alguns citam passagens bíblicas para argumentar que consumir alimentos ligados a rituais de outras religiões pode ser um problema espiritual.
A situação levou legisladores baianos a criar regras que protegem o acarajé como patrimônio cultural e regulamentam sua produção. Isso inclui a preservação da vestimenta tradicional das baianas e o banimento de versões modificadas do prato.
Apesar das polêmicas, muitos consumidores evangélicos e não religiosos continuam a consumir acarajé sem conflitos. Para alguns, como o pastor Luiz Henrique Caracas, o prato é apenas uma comida tradicional. “Sempre agradeci a Deus por cada acarajé que comi”, disse. As informações são do Christianity Today.