Por Gisleine Zarbiettis
O ensino à distância imposto pela crise sanitária que enfrentamos com o novo coronavírus obrigou o sistema educacional a rever as metodologias de aprendizagem e dinamizar o currículo escolar. Mas não é de hoje que se fala da necessidade de rediscutir o conceito da ação pedagógica e reconhecer o potencial das novas tecnologias de comunicação como parte intrínseca do processo de construção do conhecimento crítico para a educação cidadã e libertadora. Duas tendências interligadas à formação cultural.
Mesmo com o advento das redes sociais e da internet que estabeleceram novos formatos de relacionamento humano, o modelo educacional não revolucionou a prática docente. O ambiente escolar ainda reproduz características e métodos do século passado. Um comportamento que ainda impõe barreiras ao processo de aprendizagem.
Foi nesse ambiente que o colombiano Gabriel García Márquez encontrou muita dificuldade para se alfabetizar. Aos 7 sete anos, ele que viria a ser um dos escritores mais traduzidos do mundo, definiu o início de sua vida escolar como um processo de interrupção da sua educação.
Steve Jobs, magnata americano que revolucionou a informática, a música, o cinema e a comunicação, cursou apenas um semestre da faculdade. Considerava o ambiente universitário entediante demais. Abandonou o curso e passou a frequentar apenas as aulas que o interessavam na condição de ouvinte, sem estar matriculado.
Como então tornar o ambiente escolar atrativo para os alunos e capaz de promover uma formação libertadora na perspectiva da cidadania? A ação educomunicativa, que se consolidou como um novo campo de intervenção social constitui-se um fenômeno emergente para esses tempos de pandemia do novo coronavírus, fake news e seus impactos na democracia neoliberal.
Na atual conjuntura, conduzida por uma política que se apoia em fatos alternativos, a mentira passou a produzir realidades. Bertolt Brecht, importante dramaturgo e poeta alemão do século XX já apontava a mentira como arma letal utilizada para propagar o vírus da ignorância. Para ele, a saída era fazer chegar a verdade a quem mais precisa da verdade, que em sua opinião eram as principais vítimas da mentira.
Hoje a fabricação de notícias falsas deixou de ser apenas um instrumento de direcionamento da opinião pública para se tornar um negócio lucrativo nas plataformas digitais que remuneram por likes e curtidas. Essa realidade impõe cada vez mais a necessidade de estruturar o currículo escolar a partir da formação educomunicativa como um viés para dialogar com as demais áreas do conhecimento, na perspectiva da cidadania.
Transformar os alunos de receptores a produtores de conteúdos midiáticos em um processo pedagógico estruturado na ação educomunicativa é uma iniciativa com resultados eficientes e comprovados mundo afora. A experiência, baseada na concepção de Paulo Freire de “comunicação como coparticipação de sujeitos no ato de conhecer” é a grande aliada para virar o jogo nessa guerra digital e vencer a batalha em torno da propagação de notícias falsas que fomenta o discurso de ódio e ameaça a democracia.
Gisleine Zarbiettis é jornalista especialista em Educomunicação, autora do livro “Memórias de Suzano – história e fotos de todos os tempos, do vilarejo à cidade grande”; atuou por mais de dez anos na gestão de projetos educomunicativos e integrou a coordenação executiva do Programa Jornal e Educação da Associação Nacional de Jornais (ANJ)