Miriam Fróes, Fundadora do Movimento de Ex-Gays do Brasil
(Imagem: Robson Stailer)
Miriam Fróes viveu como homossexual dos 13 aos 33 anos,
aproximadamente. A partir dos 30, começou a sentir uma mudança interna. “Eu
trocava muito de parceira e aquilo foi causando crises existenciais em mim”,
disse ela em entrevista para o site Universa, do UOL.
Depois disso, passou a frequentar a igreja. Hoje, “muito
evangélica”, diz ter encontrado um novo modo de viver sob os preceitos da
Bíblia.
Além de ex-homossexual e pastora da igreja Manancial Palavra
Viva, Miriam, 55, também é idealizadora do Movimento de Ex-Gays do Brasil
(MEGB), fundado em agosto.
Ficou conhecida após se reunir com a ministra da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, no dia 5 daquele mês, em busca
de reconhecimento. “Nós existimos” diz.
Há 20 anos, ela acolhe pessoas que buscam a reorientação
sexual. Para isso, a fundadora do movimento de ex-gays não acredita em nenhum
tratamento, senão a palavra do evangelho.
Ao ser questionada sobre como seriam os detalhes da
reorientação sexual pela espiritualidade, a consultora de logística responde:
“A única palavra que posso te dar como explicação é a fé”.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) excluiu a
homossexualidade do Código Internacional de Doenças (CID) em maio de 1990. E a
recondução da sexualidade por terapias é questionada e criticada por
profissionais da saúde.
No Brasil, em 1999, o Conselho Federal de Psicologia (CFP)
proibiu que psicólogos incentivem ou proponham qualquer tratamento ou ação com
o objetivo de patologizar ou reorientar a homossexualidade.
Em entrevista a Universa, Miriam fala sobre causas e cura da
homossexualidade, com base em sua experiência, e sobre o surgimento do MEGB.
Afirma que criou o movimento ao perceber a ausência de uma
voz expressiva de ex-gays na sociedade. “Nós somos a minoria das minorias”,
diz. O slogan do grupo é “Pelo direito de deixar e permanecer”.
Outro motivo da criação do movimento foi a criminalização da
homotransfobia pela Lei de Racismo, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) em junho deste ano. Miriam teme ser processada por compartilhar sua
história em palestras. “E se alguém me ouvir e achar que eu estou sendo
homofóbica?”
A criminalização da homofobia interfere nas pautas do Movimento de Ex-Gays do Brasil?
Até agora, não. Mas existe um termo que diz que nós somos
livres para nos expressar, para fazer proselitismo, doutrinação, usar os nossos
livros sagrados. Desde que ninguém se sinta agredido pela nossa fala. Então,
ali, a lei está um pouco subjetiva para o nosso lado. E se alguém me ouvir e
achar que eu estou sendo homofóbica? Ou discriminando quem está na
homossexualidade? Isso me preocupou um pouco. Pensei, então, que poderíamos ir
ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para que nos
reconhecesse, já que eles reconhecem o movimento LGBT. É preciso reconhecer a
gente também.
Quais são as pautas do movimento?
No momento, a pauta principal foi ir ao Ministério dos
Direitos Humanos e nos pronunciar: “Olha, nós existimos”. O propósito do MEGB é
unir as pessoas que foram homossexuais e hoje não são mais. É para ser um
plataforma onde as pessoas, espalhadas pelo Brasil, possam se identificar, para
que se sintam representadas. Não temos pretensão política nenhuma. Até porque
não temos um espírito militante. Não pretendemos ter causa pública, de
política. Agora, lógico, se encontrarmos ajuda e abertura nesse campo, até
podemos pensar, sim. Nós não estamos aqui para discutir se se nasce ou não gay,
se há ou não cura para a homossexualidade. Acho que cada um tem o direito de
viver a sua vida como deseja viver. Agora, se eu fui homossexual durante quase
20 anos e abandonei esse estilo de vida, eu gostaria também que as pessoas me
olhassem e não duvidassem de mim.
Vocês tiveram uma reunião com a ministra Damares Alves. Qual foi o propósito da visita e o que discutiram?
Fomos porque gostaríamos que o Ministério desse o mesmo
reconhecimento e respaldo que dá aos outros movimentos. Queremos um
reconhecimento apenas no direito de existir. Ela nos recebeu e levamos um
material da nossa existência. E pedimos para que o ministério, assim como faz
com o movimento LGBT, com os índios ou com qualquer classe que pede apoio e
reconhecimento, pudesse contemplar a nossa existência. E assim aconteceu. Ela
não nos prometeu nada, mas jogou a responsabilidade para os seus assessores,
para ver como podem nos ajudar.
Como os assessores da ministra podem ajudar?
Na verdade, não são eles que têm que nos ajudar. O que foi
dito é que teríamos de criar políticas públicas e poderíamos receber apoio ou
não. Por mais que não queiramos essa militância política, de alguma maneira,
ela terá de existir. Mas o nosso foco é espiritual. Agora, existe uma lei
duríssima contra a homofobia. Duríssima, porque foi inserida no crime de
racismo. Você concorda que a lei é muito dura? Nós queremos nos precaver. Por
exemplo, eu dou alguma palestra. Alguém me ouve e acha que não foi adequado e
me processa. Então, a gente pede para que o ministério venha nos respaldar
nesse aspecto: “Nós existimos”.
No dia da reunião com a ministra, o Movimento Psicólogos em Ação, que defende a “cura gay” e perdeu recentemente as eleições para o Conselho Federal de Psicologia, estava presente e apoiou o MEGB. Qual é a relação entre vocês?
Nenhuma. Somos apenas conhecidos. O MEGB atua no viés
espiritual. O outro movimento luta mais de forma humanista, pela psicologia,
também em relação à causa moral. Porém, são psicólogos cristãos ou
conservadores. Eles lutam para ter o direito de exercer a psicologia no que
tange à pessoa que está na homossexualidade e não quer ser homossexual. Mas são
proibidos de exercer essa prática. Por isso, eles lutam. E, por isso, são
movimentos parecidos.
Ao dizer isso, o seu movimento não acaba se aproximando do grupo pró-cura, que defende a reorientação sexual?
A questão é que esses psicólogos acham que sozinhos dão conta.
E eu não concordo com isso. Você pode contar com um amigo, um pastor, um
conselheiro, um psicólogo, uma tribo e a família. E, lógico, os preceitos da
Bíblia, que você terá de seguir e obedecer.
Embora afirme que não há nenhuma relação entre o MEGB e a
chapa “pró-cura”, Saulo Navarro, integrante do movimento, também apoiou e fez
campanha nas redes sociais para a chapa.
Ele não é mais [membro]. Esse afastamento se deu justamente
por causa disso, por um desacordo com os preceitos do MEGB que são de expressão
e liberdade religiosa. O Saulo tem uma opinião contrária. É um direito que ele
tem.
Historicamente, homossexuais foram lobotomizados, torturados e submetidos à castração química como tratamento para uma suposta cura gay. Nenhum desses procedimentos teve eficácia comprovada cientificamente. O Movimento de Ex-Gays do Brasil acha que a homossexualidade é uma doença?
Não, eu não acho que a homossexualidade seja uma doença. O
movimento acha que é um conflito emocional causado por traumas vivenciados na
infância. Entre eles, abusos sexuais, agressões dentro de casa, ausência do pai
ou da mãe. Isso pode causar um sentimento de carência, de não encontrar a
identidade, e você vai em busca de criar essa identidade para você. A
homossexualidade pode ser originada por questões emocionais, mas também não é
uma escolha fechada. Cada um vai desenvolver da sua maneira. Existem pessoas
que não vivenciaram nada disso e têm sentimentos homossexuais, e eu não sei te
explicar.
Não há comprovação de que abusos sexuais ou ausência dos pais possam ser fatores para a homossexualidade. Com que fundamento acredita nisso?
Eu penso dessa maneira com base em três coisas. Primeiro,
minha experiência pessoal, o que vivi até hoje. Segundo, o contato que tive ao
longo de 20 anos com outros ex-gays. E terceiro, livros de autoajuda, de cunho
religioso. Inclusive, o principal deles é o “Restaurando a identidade” [escrito
por Bob Davis e Lori Rentzel, anteriormente publicado sob o título “Deixando o
Homossexualismo”, o livro baseia-se na “cura da homossexualidade” somente por
meio da religião].
Se uma pessoa homossexual está bem com a sexualidade dela, acha que ela precisa de reorientação?
Todo homossexual que não está satisfeito com a sua
homossexualidade deve procurar ajuda. A ajuda que for, ele quem vai decidir. O
MEGB defende [a ajuda] pela Bíblia, pela espiritualidade. E eu não acho que
todo homossexual precise de reorientação. Ele precisa ficar como está, caso se
sinta bem. Todo mundo tem livre arbítrio para viver e escolher o jeito que se
sente melhor neste mundo. Inclusive, a Bíblia fala sobre isso. O movimento não
está aqui para se opor a isso.
*Fonte: Universa – UOL