Mesmo após 10 anos de atividades no país, igreja evangélica na região central da Etiópia recebeu ordens de desocupar seu prédio
A Igreja Evangélica Mekane Yesus, na cidade de Robe, a cerca de 400 km da capital Adis Abeba, na Etiópia, foi ordenada pelas Autoridades Estaduais Regionais de Oromia a deixar suas instalações dentro de 30 dias. As reuniões da igreja com autoridades locais, até agora, não os fizeram mudar de ideia. Além disso, igrejas em outras partes da Etiópia também dizem que a pressão contra os cristãos está aumentando.
“Nada mais do que uma demonstração de aversão”
A carta de despejo, assinada pelo prefeito Birhanu Dadi Tafesse, disse que os vizinhos da igreja se queixaram de barulho. Eles alegaram que os cristãos presentes na reunião não eram da área e que o prédio não era adequado para cultos religiosos. “Com base no consenso que chegamos no comitê formado, é preciso procurar outro lugar e deixar o atual dentro de 30 dias”, dizia a carta.
“Esta é realmente uma medida surpreendente”, disse uma fonte, não identificada por razões de segurança, ao World Watch Monitor. “Se o barulho é o problema, as igrejas protestantes não podem ser as primeiras a serem acusadas de poluição sonora. Outras instituições religiosas usam sistemas de som muito mais potentes em todo o país. Ruídos de mesquitas e igrejas ortodoxas da Etiópia, por exemplo, podem ser ouvidos durante todo o dia e até mesmo à noite. Esta decisão nada mais é do que uma demonstração de aversão às igrejas protestantes da região”, declarou a fonte. A mesma ainda disse que a congregação adquiriu o prédio de um proprietário privado há 10 anos.
Cristãos temem queixas e tensões semelhantes
Existe a preocupação de que essas medidas sejam parte de um esforço conjunto para desencorajar a atividade cristã no estado de Oromia, o berço do presidente do país, Abiye Ahmed. Líderes cristãos dizem que também temem que, se essas ações do governo forem bem-sucedidas, possam incentivar os muçulmanos de outras comunidades a iniciar queixas semelhantes.
“Tensões similares estão borbulhando sob a superfície em outras partes do estado”, disse a fonte. “Nós até ouvimos falar de lugares onde os muçulmanos mandaram que os cristãos desocupem a área. E embora esse chamado seja velado como rivalidade étnica por alguns meios de comunicação, é em sua essência uma questão religiosa”, afirmou.
Mas, não são apenas as igrejas protestantes do país que enfrentam problemas. Algumas igrejas ortodoxas também relataram aumento da perseguição. Na cidade de Woliso, 120 km da capital, as autoridades confiscaram as terras da igreja e as entregaram aos seguidores da Religião Tradicional Africana de Wakefeta. A lei da Etiópia promete liberdade de religião, mas o país está em 28º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2019 e os cristãos experimentam hostilidade do governo, da família e da comunidade.
Fonte: Portas Abertas