O professor de Antropologia da UFRJ, Rodrigo Toniol, coordenou uma pesquisa que revela o aumento de católicos frequentando cultos evangélicos sem intenção de mudarem de religião. O estudo foi publicado no site do jornal Folha de S. Paulo.
Cláudia, de 55 anos, é um exemplo dessa tendência. Moradora do Rio de Janeiro, ela foi batizada, crismada e casada na Igreja Católica. Questionada sobre sua religião, Cláudia é firme: “Sou católica apostólica romana”. Essa foi também a resposta que deu ao IBGE na última pesquisa do Censo.
Mesmo assim, Cláudia também participa de cultos evangélicos esporadicamente. “Gosto muito de missa, mas procuro padres que tenham uma homilia marcante. Ao mesmo tempo, adoro o louvor e a oração nas igrejas evangélicas”, explicou ela em entrevista.
Casos semelhantes estão se espalhando pelo país. Muitos católicos frequentam cultos por causa de pastores cativantes, da proximidade das igrejas ou mesmo para acompanhar amigos. Apesar disso, eles continuam se identificando como católicos, sem concluir o que seria uma conversão completa para o evangelicalismo.
Estudiosos da religião no Brasil apontam que, historicamente, o país é conhecido por sua diversidade religiosa e por práticas de múltiplo pertencimento. Pessoas que se dizem católicas muitas vezes participam de rituais de outras tradições, como passes em centros espíritas ou festas em terreiros de umbanda.
No entanto, havia uma divisão mais acentuada entre católicos e evangélicos, que agora parece estar mudando. Outros estudos também mostram movimentos contrários, como evangélicos que adotam o catolicismo. Essas dinâmicas desafiam a ideia de que esses grupos seriam completamente isolados entre si.
O professor Rodrigo Toniol destaca que as estatísticas, como as do Censo de 2010, que indicam 64,6% de católicos e 22,2% de evangélicos, não capturam a complexidade das práticas religiosas no Brasil. Ele argumenta que observar o cotidiano das pessoas é essencial para compreender as transformações religiosas no país.