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25/11/2024

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Proibição do trabalho humanitário feminino no Afeganistão custará vidas, alertam principais grupos de assistência

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Mais de 1,1 milhão de crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda. Divulgação
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Cerca de 28 milhões de pessoas – mais da metade da população – incluindo 14 milhões de crianças, precisam de assistência humanitária no Afeganistão.

Quatro dos maiores grupos de ajuda internacional que trabalham no Afeganistão alertaram nesta quinta-feira, dia 29 de dezembro, que as vidas de mulheres e crianças estarão em risco se as autoridades, de fato, não reverterem imediatamente a proibição de funcionárias de ONGs no país.

Save the Children, World Vision International, CARE International e o Norwegian Refugee Council (NRC) suspenderam temporariamente suas operações no Afeganistão após o anúncio das autoridades em 24 de dezembro, alertando que não poderão alcançar as milhões de crianças, mulheres e os homens que precisam de assistência, sem o efetivo feminino.

Em uma coletiva de imprensa conjunta, as quatro organizações não governamentais internacionais pediram uma reversão imediata da proibição, que ocorreu uma semana depois que as mulheres foram proibidas de frequentar as universidades. As meninas já estão banidas das escolas secundárias e em novembro foram banidas de jardins públicos, ginásios e banheiros públicos.

Os dados mais recentes mostram que cerca de 28 milhões de pessoas – mais da metade da população – incluindo 14 milhões de crianças, precisam de assistência humanitária no Afeganistão. Cerca de 97% dos afegãos correm o risco de cair abaixo da linha da pobreza este ano. Mais de 1,1 milhão de crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda.

“As trabalhadoras humanitárias são vitais para que possamos fornecer assistência humanitária baseada em princípios. Elas são enfermeiras, médicas, professoras, especialistas em nutrição, líderes de equipe, agentes comunitárias de saúde e vacinadoras. Nosso trabalho é salvar vidas e criar um futuro melhor para as crianças no Afeganistão. Isso requer o total envolvimento e liderança de nossa equipe feminina”, afirmou Andrew Morley, presidente e CEO da World Vision International.

“Estamos ao lado das crianças do Afeganistão há mais de duas décadas, ao longo de tantos desafios. Devemos encontrar uma solução o quanto antes, para que nossa equipe feminina continue trazendo vida em toda a sua plenitude para meninas e mulheres. Eles não merecem nada menos”, complementou Morley.

Inger Ashing, CEO da Save the Children, disse que sua organização estava tratando 73.000 crianças com as formas mais fatais de desnutrição e 30.000 mulheres por meio de clínicas móveis e que essas vidas estavam em risco sem uma equipe médica feminina. Ela disse que a Save the Children tinha 5.700 funcionários e trabalhadores comunitários no Afeganistão, dos quais 2.490 eram mulheres e trabalhava no país há 40 anos. Desde a aquisição de fato pelas autoridades, em agosto de 2021, a Save the Children ajudou quase 4 milhões de pessoas, incluindo 2 milhões de crianças.

“O trágico é que quando as autoridades emitiram esta decisão, mulheres, homens e crianças afegãs estão enfrentando uma das maiores crises humanitárias do mundo, incluindo níveis recordes de fome. O Afeganistão está enfrentando sua pior crise alimentar desde o início dos registros, com 6 milhões de pessoas à beira da fome. Isso não é uma escolha. Não podemos fornecer nosso suporte para salvar vidas sem nossas colegas mulheres. Se não formos capazes de começar a operar novamente, as crianças morrerão… a situação é muito séria”, disse Ashing na coletiva de imprensa virtual.

A secretária-geral internacional da CARE, Sofia Sprechmann Sinerio, disse na coletiva de imprensa: “Mulheres e meninas já são as que menos comem, em um momento em que cerca de 6 milhões de afegãos estão a apenas um passo da fome. Só podemos imaginar o impacto que esta última decisão devastadora terá em uma população que já enfrenta dificuldades extremas. As mulheres humanitárias são algumas das mais eficazes do mundo; eles são uma parte inegociável da entrega da ajuda, que não pode discriminar”. A CARE começou a trabalhar no Afeganistão em 1961 e tem 900 funcionários, 38% dos quais são mulheres, atuando em 9 províncias.

O Norwegian Refugee Council tem atualmente 1.541 funcionários no Afeganistão, dos quais 469 são mulheres. Desde 15 de agosto de 2021, as equipes do NRC ajudaram mais de 870.000 pessoas afetadas pelo deslocamento em 18 províncias do Afeganistão, com apoio que vai desde respostas de emergência a enchentes, terremotos e secas, educação, abrigo, assistência jurídica, proteção, meios de subsistência, segurança alimentar e água. Este ano, o NRC prestou assistência a 3.700 famílias para prepará-las para o inverno. Essas atividades de inverno que salvam vidas estão suspensas devido à proibição. “Não podemos funcionar sem nossa equipe feminina; elas formam uma parte vital de nossa resposta humanitária e representam aproximadamente um terço de nossa força de trabalho. Precisamos de acesso desimpedido para homens e mulheres ao nosso trabalho”, disse Adam Combs, diretor regional do NRC.

A World Vision International trabalha no Afeganistão há 21 anos. A organização apoiou seis milhões de pessoas, entre elas, três milhões de crianças.

 Sobre a Visão Mundial: A World Vision, conhecida no Brasil como Visão Mundial, é uma organização humanitária dedicada a trabalhar com crianças, famílias e suas comunidades para atingir todo o seu potencial, combatendo as causas da pobreza e da injustiça. Serve a todas as pessoas, independentemente de religião, raça, etnia ou gênero. A organização está no Brasil desde 1975 atuando por meio de programas e projetos nas áreas de proteção, educação, advocacy e emergência, priorizando crianças e adolescentes situações de vulnerabilidades.