Hambúrguer com pão ciabatta e batata frita. (Foto:
Reprodução)
Por Estêvão Chiappetta
“Efraim se mistura
com os povos e é um pão que não foi virado na hora de assar”, Oseias 7: 8
Estive num verdadeiro momento de silêncio e de jejum digital
desde meados de 2018. Esperei e chegou o momento, afinal, Tempus Fugit (o tempo
voa). O tempo chegou de falar de uma certa experiência estudantil e
gastronômica.
Vendo a recente reportagem sobre a possibilidade de nomeação
do filho do presidente desta nossa estimada república como embaixador nos EUA,
lembrei de alguns fatos que aconteceram em minha vida (qualquer semelhança é
mera coincidência).
Fui estudar inglês há muitos anos atrás na Universidade de
New Brunswick campus da cidade de Saint John (UNBSJ) no Canadá, na Província
(espécie de Estado) de Nova Brunswick, bem acima do Estado do Maine na divisa
com os EUA.
Lá imergi na língua inglesa e estagiei numa igreja em uma
pequenina cidade chamada Quispamsis, ali aconteceu uma ótima oportunidade de
intercâmbio e morei na casa de uma família cristã abençoada.
Parecia que lá chovia hambúrguer pois não sabia como uma
pequena cidade conseguia manter tantas lanchonetes de redes conhecidas de fastfoods
(McPatodaDisney, BK, Sub-UAI-sô, KFC, etc).
Pela manhã no frio do final do inverno canadense, sempre ia
aguardar o transporte para a universidade (busão) dentro de uma conhecida rede
lanchonete (a do Ronald) lotada por incrível que pareça por muitos idosos
jogando dominó (parecia um recreio/clube de aposentados e pensionistas), pois
ali foi e era a hamburgueria desde a adolescência (o “point”) deles.
No Brasil fui criado para ter tudo a mão, fui ensinado a nem
colocar o prato na pia, fui “mal-acostumado”. E quando precisei morar num outro
lar, junto a uma outra família, em um outro país tive que reaprender a ser
participativo. Foi uma “gestão de choque” cultural onde a experiência me forçou
a amadurecer.
Ah, lá aprendi também a fritar hambúrguer, muitos
hambúrgueres!
E por mais incrível que pareça, nunca imaginei que em 2019
eu veria o quanto que isso me serviria e me qualificaria para que eu pudesse
ser embaixador, e ainda por cima iniciar como embaixador em nada mais, nada
menos que Washington D.C. a capital estadunidense. Não precisaria mais estudar
relações internacionais e passar em concurso para ser diplomata no Itamaraty.
Lembro bem que foi muito propagado que a partir da eleição
do novo governo federal seria inaugurado um novo momento, onde aconteceria a
mais pura “meritocracia”, pois uma “nova” política raiaria e a qual desde o
início foi “aprovada e canonizada” pela bancada dos deputados do sacro império
brasilis, chegando ao cúmulo de quase ser impossível emitir um mínimo de
crítica sob o risco de ser acusado de participar de conluio em favor de um
certo molusco ou de ser comunista e inimigo da democracia.
Gosto muito do lema do renomado teólogo medieval Anselmo de
Cantuária: “crer é também pensar”; o qual virou slogan da Aliança Bíblica
Universitária (ABU).
Devemos apoiar o que é certo e denunciar o que é errado (na
hora certa e da maneira certa).
Como evangélicos no Brasil aprendemos a fritar muito
hambúrguer, mas não temos tido o cuidado de virar o pão! Assim como atesta o
profeta: “Efraim se mistura com os povos e é um pão que não foi virado na hora
de assar” Oseias 7:8. O pão fica queimado de um lado e cru do outro, impróprio
para o consumo. Assim o profeta Oseias alertou sobre a situação do Reino do
Norte (Efraim) com a atitude de realizar alianças promíscuas em termos éticos.
Parafraseando Oseias: “A igreja se mistura com o governo e é
um pão que não foi virado na hora de assar”. Devemos ter o cuidado de, como
cristãos, não queimarmos um lado do pão e deixarmos o outro lado cru, ou seja:
1. Sermos carbonizados (queimados) por estarmos envolvidos
demais com o poder, por não termos nenhuma atitude independente e por sermos um
povo acrítico;
2. Sermos crus, indigestos e sem gosto, sem a capacidade de
influenciar a sociedade e qualquer que seja o governo. Comer massa de pão cru
fermenta e incha dentro do corpo causando empachamento.
Ambas as situações extremas não são saudáveis, não transmite
a devida saúde cristológica que faz da igreja uma comunidade terapêutica.
Não adianta fritar hambúrguer se o pão não estiver
devidamente assado.
Diante desse dilema ético, em que me veio a tentação em me
habilitar para concorrer ao cargo de embaixador nos EUA, mas logo lembrei que
não faço parte do status quo vigente na política e nem sou “filho do rei”.
Fui a tempo também lembrado por Deus que assim como o
Apóstolo Paulo: “Eu sirvo como um embaixador das Boas Novas na prisão. Por isso
orem para que eu seja corajoso e as anuncie como devo anunciar” Efésios 6:20. Afinal
sou filho do Rei de um outro reino: o Reino de Cabeça para Baixo! Reino muito
superior, onde quem deseja ser o maior (embaixador nos EUA) precisa antes ser o
menor (embaixador em Fiji).
Atenciosamente fritando hambúrguer de cabeça para baixo,
Estêvão Chiappetta.