Em todo o mundo, são apenas 35 exemplares do livro sagrado do judaísmo escrito por mulher; apenas oito feitos integralmente por uma única mulher; brasileira entra para seleto grupo
A brasileira Rachel Reichhardt entra para um seleto grupo de mulheres que quebraram um tabu de séculos, sendo a primeira mulher da América Latina e escrever uma Torá, o livro sagrado do judaísmo. No mundo todo, são apenas 35 exemplares de Torá escrito por mulheres, dos quais apenas oito – contando com o exemplar escrito por Rachel – feitas integralmente por uma única escriba.
O projeto, realizado pela Comunidade Shalom, reconhecida por seu judaísmo pluralista, igualitário e inclusivo, foi concluído no último dia 2 de novembro, após sete anos de duração, com uma cerimônia de entrega da nova Torá para a comunidade judaica de São Paulo.
Durante séculos, essa função foi exercida quase exclusivamente por homens. Somente nas últimas décadas é que mulheres também começaram a estudar as leis judaicas e caligrafia sagrada, abrindo caminho para uma nova geração de escribas. Com a brasileira Rachel, atualmente, elas formam um seleto grupo de 18 mulheres habilitadas para esse trabalho.
Rica simbologia
A escrita da Torá é feita em pergaminhos de couro animal e composta por 245 colunas escritas, que compreendem os cinco primeiros livros da Bíblia, conhecidos como o Pentateuco, e é considerada um guia prático para a vida judaica. A Torá contém 613 mandamentos que regem as práticas e a moralidade do povo judeu.
A escrita é feita toda com pena animal, geralmente de pato ou de ganso, mergulhada em tinta especial, feita de goma guar extraída de árvore. Os pergaminhos são unificados e para costurá-los usa-se tendão animal. O processo todo é solitário, já que requer silêncio absoluto e altíssima concentração para atender as mais de duas mil regras existentes na confecção de uma Torá.
Cada letra, cada acento é copiado de um livro guia e a pessoa que faz este trabalho deve falar em voz alta cada palavra que escreve, lembrando que a Torá foi concebida ao povo judeu escrita e oralmente e a tradição deve ser mantida inclusive neste momento. Não há revisão após a finalização, o que requer uma confiança grande da comunidade que a recebe.
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