Os líderes cristãos temem uma perseguição estatal se não andarem de acordo com os desejos das autoridades locais
Apesar dos epidemiologistas acreditarem que o momento seja de pico da COVID-19 na Nicarágua, a Aliança Evangélica da Nicarágua (AEN) planeja reabrir os locais de culto em poucos dias. Segundo a instituição, 44 pastores filiados morreram por causa do coronavírus, entre 12 de abril e 15 de junho.
De acordo com um líder cristão, que preferiu não se identificar, as igrejas voltariam às atividades por medo da repressão do governo. A Portas Abertas noticiou que o presidente Daniel Ortega negou a presença da COVID-19 no país e obrigou os funcionários públicos a participarem de uma marcha política, chamada de “Amor em tempo de COVID-19”.
Outro pastor disse que outros líderes das igrejas acreditam que o vírus não os atingirá, se mantiverem a oração. Por isso, algumas comunidades cristãs não chegaram a interromper as atividades durante o lockdown.
Sob os olhos do governo
Uma colaboradora local explicou a situação: “A igreja evangélica sempre reagiu de acordo com o que a ditadura propõe, sem desobedecer ou inventar outra coisa. Até mesmo suas declarações públicas são escritas com o máximo cuidado. Alguns pastores concordaram com o presidente Ortega quando disse que primeiro protegeria a economia acima de tudo e não iria impor uma quarentena”.
O pastor Jacobo* disse que o medo tem feito com que os líderes religiosos não contrariem as decisões dos governantes. “A igreja evangélica não levanta a voz para denunciar. Nunca o fez antes ou agora durante a pandemia; não se sente com poder para fazê-lo e tem medo de ser atacada”, explica.
No país, se um líder cristão prega sobre injustiça social ou sobre a pandemia da COVID-19 ele pode receber ameaças sutis como essa: “Pastor, sobre o que ouvimos você dizer hoje, deve ter cuidado com as palavras”, exemplifica a colaboradora. Porém, a perseguição aos seguidores de Jesus não é algo causado pela pandemia.
Em outubro de 2019, um jovem líder de uma igreja pentecostal disse que precisavam reavaliar o papel no território. “Vivemos em um país onde há tanta injustiça e é hora da igreja reconsiderar sua posição porque, até hoje, estamos sozinhos nas mãos de Deus. Se manifestarmos desacordo, corremos o risco de sermos penalizados por autoridades governamentais e até mesmo por nossos representantes ou superintendentes na igreja”, testemunhou.
Ameaça real do governo
A liderença de Daniel Ortega tem sido dura com as pessoas que discordam da ação dele. Em abril de 2019, o governo foi responsável por 325 mortes. As vítimas marcharam contra a reforma da Previdência Social proposta por Rosario Murillo, esposa de Ortega e vice-presidente da Nicarágua.
No mesmo período, 11 igrejas e 19 líderes cristãos foram atacados pela polícia e por simpatizantes do governo. “Em vez de promover programas de segurança e prevenção, o que o governo tem feito é liderar manifestações e atividades massivas em todo o país”, completa a pesquisadora local.
Além disso, o governo proibiu a instalação de centros comunitários que ofereciam informações sobre a COVID-19, na região norte. A iniciativa foi do líder cristão Rolando Alvarez, que manifestou o descontentamento em rede social: “Nós queríamos trabalhar para garantir a saúde de nossa população, mas não nos foi permitido fazer isso”. Ore para que os cristãos locais tenham coragem de obedecer a palavra de Deus, mesmo diante da perseguição governamental.
Portas Abertas