Camiseta unissex jovem / Foto: Divulgação
Roupas comportadas não são sinônimo de vestimentas sem graça
ou que não sigam tendências. Considerada “careta” no passado, a moda voltada
para as evangélicas passou por uma renovação no que se refere a cores,
modelagens e tecidos.
O mercado segmentado ganhou novas marcas, que perceberam a
necessidade de apostar em peças mais sofisticadas e que atendam ao lifestyle de
23,5 milhões de brasileiras evangélicas — segundo dados do último Censo –, que
preferem não revelar seus corpos de maneira sexy ou apelativa.
Com as informações de moda cada vez mais acessíveis, as
evangélicas incorporam influências fashionistas a seus looks. Referências não
faltam para quem deseja mais variedade no guarda-roupa — não importa se a dona
dele tem estilo clássico, romântico ou esportivo.
O sucesso de it girls como Paola Santana e Thais Rodrigues é
um reflexo disso: juntas, elas acumulam mais de 700 mil seguidores no Instagram.
Essas influenciadoras são exemplos da mulher cristã moderna,
que ocupa seu lugar no mercado de trabalho, cuida da família e da casa e busca
crescimento pessoal e desenvolvimento profissional. E não quer ser
estereotipada: quer mostrar sua personalidade por meio do visual.
“Sempre vale apostar em roupas de qualidade, que favoreçam o
biótipo de cada uma, e que tenham coerência com o estilo pessoal, além de
atender às necessidades do dia a dia e comunicar a mensagem visual adequada”,
diz a consultora de imagem Drielly Rufca, de Ourinhos (SP).
É possível ter estilo próprio, adaptar os looks ao que é
tendência e não fugir dos preceitos religiosos. Em linhas gerais, a maioria das
congregações prega a modéstia em se vestir. Saias até os joelhos estão entre os
modelos campeões — comprimentos curtos, recortes estratégicos ou transparências
exageradas ficam de fora.
“Isso significa discrição com relação às formas do corpo e
escolher peças que comuniquem o estilo de cada uma, uma vez que não buscamos um
único padrão, que coloque as mulheres numa mesma ‘forma’ como se todas
passassem a mesma mensagem sobre si ao mundo”, acredita Drielly, que frequenta
a Igreja Adventista.
Poder de escolha – Há alguns anos as evangélicas não tinham
tantas opções de vestuário à disposição: foi justamente esta carência que levou
Aurea Flores, hoje com 60 anos, a criar roupas segundo as exigências destas
mulheres e os critérios da religião, em 1990.
Membro da Congregação Cristã, ela sentiu na pele a
dificuldade na época em encontrar produtos específicos e, por isso, decidiu
iniciar a confecção de peças para o uso próprio: assim nasceu a Joyaly. “Com o
pedido cada vez mais frequente das irmãs percebeu o potencial do negócio e
começou a produção em maior escala. Quase 30 anos depois, a missão da Joyaly
não é mais atender a essa necessidade, mas sim satisfazer os desejos de uma
consumidora que hoje tem muito mais informação e poder de escolha”, conta
Alison Flores, administrador da marca, em São Paulo.
A Joyaly conta com um departamento de estilo que pesquisa
novas tendências com pelo menos um ano de antecedência para agregar valor e
referências de moda às peças segmentadas ao mercado evangélico.
Os vestidos lisos ou com estampas pouco chamativas estão
entre os itens mais procurados das coleções — que são exportadas para países
como Paraguai, Argentina, Portugal e Estados Unidos.
Estilo e fé para todas – Mesmo que a moda evangélica tenha
surgido da carência de roupas para mulheres que adotam um estilo conservador,
de acordo com os ensinamentos da igreja, o que se vê agora é uma nova concepção
de estilo que transcende a religião — e que tem sido opção independentemente da
crença.
Com isso em mente, a empresária Kelli Gasques, de Campinas
(SP), criou a Ruah, marca de moda cristã e que atende mulheres que gostam de
roupas que misturam elementos de fé, discrição e tendências de moda. “Minha
proposta é levar um pouco mais de Deus às pessoas, fazer com que elas sintam e
saibam que Ele está presente”, afirma. Por isso, as peças vêm acompanhadas de
histórias, orações e desenhos de imagens sacras.
Uma das estampas mais conhecidas da marca traz a palavra
“fé” em forma de cruz estilizada e virou febre nas ruas. As camisetas com o
desenho expressam esperança, devoção e amor, segundo a estilista. “Foi o carro-chefe
de uma coleção chamada ‘Amor Maior’. Depois do ‘boom’ trouxe mais visibilidade
e conhecimento da marca, que está há dois anos no mercado”, conta Kelli, que é
católica.
*Fonte: Universa – UOL