Meio ambiente e sustentabilidade. (Foto: Reprodução)
Pr. Estêvão Chiappetta:
“… a própria criação
será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos
de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta
angústias até agora”.
Apóstolo Paulo aos Romanos 8.21-22
Dias difíceis, estamos vendo o Brasil ser arrasado em sua
imagem devido a tragédia das queimadas criminosas e pelo desmatamento ilegal em
nossa Amazônia Verde, onde chegou ao absurdo de que a água da chuva na região
metropolitana da cidade de São Paulo ficou escura e com odor de fuligem por
conta das queimadas a milhares de quilômetros de distância da Região Norte do
país.
Como se não bastasse o ocorrido, agora uma segunda tragédia
ambiental em proporções avassaladoras em nossa Amazônia Azul na costa do
Nordeste em sua fauna e flora litorânea a qual foi afetada pelo maior desastre
de derramamento de petróleo em alto mar que já atingiu o Brasil.
Como pode tragédias como estas não afetar a vida das
pessoas, dos brasileiros como um todo? Concluímos que não existe lado de fora
quando de trata de meio ambiente. Todos estamos dentro do mesmo planeta, logo
não existe o “lado de fora”.
O governo federal acordou muito tarde para perceber que
cuidar do meio ambiente não é política de comunista ou de ambientalistas
fanáticos(as). Comida não nasce em asfalto. Um smartphone é importante mas não
é essencial para a vida. Água e alimento, sim, estes são essenciais para a
manutenção da vida que Deus nos oferece nesta existência.
Qual o nosso papel como cristãos na preservação do meio ambiente?
Como professor de teologia sistemática eu não posso me
esquivar de alertar a todos para o todo do sistema teológico bíblico que trata
do interesse de Deus pela biodiversidade. Lecionando principalmente a cadeira
de cosmologia bíblica abordo sobre a criação de Deus e toda a nossa
responsabilidade como cristãos em prol do meio ambiente.
Infelizmente as vezes nos deparamos com alguns cristãos que
não dão a mínima para o meio ambiente e que não adotam nenhuma medida de
preservação ambiental. Até compreendo que nós cristãos somos um Corpo, onde
cada um é diferente e tem suas vocações e particularidades, e todos nos
complementamos (pelo menos em tese). Mas o grave problema de alguns é: não
apoio, não gosto do tema, e ainda por cima crítico e não apoio quem gosta.
A grande dificuldade do cristianismo mundial e muito mais
acentuado no cristianismo brasileiro é a praga do neognosticismo influenciando
ainda hoje o nosso modus operandi (jeito de agir) dos cristãos, somado ao
neoplatonismo, uma corrente filosófica usada como uma ferramenta indevida para
tentar explicar o que nós cremos como cristãos.
O neoplatonismo em sua versão pós-moderna através do
neognosticismo em uma fusão diabólica faz de forma velada uma verdadeira
confusão no cristianismo evangélico brasileiro onde sutilmente retira o
verdadeiro sentido de alguns princípios básicos da fé cristã.
Confundem o mundo ao qual Deus criou (bom), com o mundo ao
qual nós criamos (mau).
Dizendo em outras palavras: Esse mundo aqui não presta, e o
que presta é apenas o além, o Paraíso de Deus.
Na Bíblia toda criação é vista como bênção e não como
maldição. O livro da Gênesis (Gn) fala que Deus criou tudo, achou bom e
abençoou, isto mesmo: Deus abençoou também os animais (Gn 1.22).
De acordo com Gênesis somos apenas gestores, usufrutuários
da Criação. A liderança passada por Deus aos seres humanos é para que sejamos o
espelho de Deus, bons representantes com boas atitudes para com este planeta.
Administrar segundo o padrão de Deus não é humilhar ou
destruir a criação.
Certa vez ouvi de um grande amigo cristão em sua prédica o
seguinte desprezo pela criação: “… – estão dizendo salve as baleias, salvar as
baleias que nada! Salvar para que?”.
Esse desprezo de uma parcela dos cristãos pela Criação,
repito mais uma vez, é um desvio neognóstico somado ao neoplatonismo impregnado
no cristianismo protestante brasileiro onde é priorizado o “mundo espiritual”
desprovido dos efeitos da ressurreição de Cristo. O “mundo espiritual” é um
mundo de espíritos, o qual não cabe a criação de Deus, e onde o corpo (físico)
é desprovido de valorização.
Interpretam de maneira equivocada palavras encontradas no
Novo Testamento escritas em grego koinê (língua original na qual foi escrita o
NT). Confundem o significado de: a) corpo (soma) com b) carne (sarx). O
primeiro (o corpo) criado e abençoado por Deus, o segundo (a carne, no caso o
desejo da carne, desejo pelo erro) criado por nós humanos (descontrole e
imaturidade emocional).
E vemos esse desprezo em situações sutis, como por exemplo:
em um funeral de cristãos, o celebrante fala de tudo (de Céu, presença de Deus,
Paraíso, etc), menos da Ressurreição. Quer dizer, uma vida após a morte onde é
desprezada um dos pilares inegociáveis da doutrina cristã: a Ressurreição de
Jesus Cristo.
É enfatizado no meio evangélico o “mundo espiritual”
habitado por seres celestiais e espíritos humanos (almas) desprovidos de
realidade material/física, no caso seres desprovidos de corpo. No máximo é
tratado no período da Páscoa, apenas como fato celebrado porque aconteceu na
vida do Salvador Jesus Cristo, mas que não é enfatizado como algo estendido a
todos os cristãos.
Uma situação ocorrida na década de 1990 retrata de maneira
emblemática como somos vistos e percebidos: certo grupo político ganhou as
eleições em uma cidade da região metropolitana do Recife, e logo foram fatiados
os cargos comissionados de segundo e terceiro escalão, e os evangélicos que
faziam parte de um subgrupo do partido foram esquecidos e escanteados, e quando
lembraram destes, o prefeito eleito disse: “- os evangélicos ficam com a
administração do cemitério já que eles entendem de almas”. Parece piada, mas
aconteceu.
A Bíblia mostra que nós somos uma unidade psicossomática,
isto é, somos a soma do: corpo + alma + espírito, e que o próprio Jesus Cristo
assegurou esta realidade quando afirmou a ressurreição do corpo através de seu
bendito ressurgimento.
Como acadêmico de Medicina Veterinária e Teólogo, venho
trazer um exemplo de como os escritores neotestamentários pegaram palavras com
conceitos naturais e ambientais do dia-a-dia e ressignificaram as mesmas para
podermos compreender melhor uma realidade sobrenatural, como por exemplo a
palavra: adoração, a qual é a tradução de proskuneo, ou literalmente
prostrar-se e prestar reverência, ou melhor, o ato de um cachorro que
reconhecendo o seu tutor à distância corre para lhe lamber a mão. Isto mesmo, é
usado uma comparação, uma analogia para que uma palavra possa ser melhor
compreendida sobre o que significa a adoração (a lealdade e fidelidade) devidamente
oferecida somente a Deus.
O Apóstolo Paulo afirma em sua Carta aos Romanos capítulo 8,
versos 21 ao 22 que: “… a própria criação será redimida do cativeiro da
corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que
toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora”. Isto é, nós
estamos fazendo este mundo criado por Deus adoecer. Através do nosso estado
emocional deformado, temos afetado toda a Criação, a qual aguarda por um
milagre promovido por Jesus Cristo.
E o Apóstolo Paulo também afirma na sua Carta aos
Colossenses, capítulo 1, verso 20: “e que, havendo feito a paz pelo sangue da
sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer
sobre a terra, quer nos céus”. Onde é afirmado que os efeitos da redenção
promovido por Jesus Cristo, se estendem para toda a Criação. A reconciliação de
Deus é para com toda a Criação, e não apenas para os seres humanos.
Temos em toda a Bíblia um Deus que zela e que ama não apenas
a humanidade, mas que zela por toda sua obra, por todo os seus feitos, por toda
sua criação, logo chegamos à conclusão de que não gostar, não cuidar, não
preservar, menosprezar a Criação, é o mesmo que menosprezar o próprio Criador,
o próprio Deus.
Somos cristãos integrais, que amamos o Evangelho todo, para
todo ser humano em sua totalidade!
Deixo aqui o meu apreço a todas ONGs ambientalistas, em
especial para A ROCHA, uma ONG cristã conservacionista com uma bela história
iniciada em Portugal, mas cujo alcance atualmente se faz presente em mais de 19
países, (www.arocha.org e www.arocha.org.br) a qual está fazendo a diferença e
mostrando que uma das provas de amor pelo Criador é amar a sua Criação. Não
adianta exaltar o artista, e desprezar sua obra de arte!
Nosso respeito pela memória do Chico Mendes, à vida de
Marina Silva, de Greta Thunberg e tantos outros(as) que muitas vezes no
anonimato tem feito toda a diferença.
Nosso respeito aos nordestinos guerreiros (com todo respeito
a todas as nossas maravilhosas regiões, mas o Brasil nasceu no Nordeste) que
têm lutado limpado e retirado a escuridão do petróleo em nossas praias.
Que surjam mais cristãos engajados na preservação do Verde e
do Azul de Deus!
Agradeço a Deus por ser casado com uma cristã, psicóloga e
ambientalista reconhecida e homenageada pelo Partido Verde (não somos filiados
a qualquer partido).
Atualmente minha maior preocupação não é o Brasil sofrer
alguma retaliação internacional, mas o meu maior temor é a retaliação da Deus
através de Sua Justiça contra aqueles que insistem em destruir a Sua obra!
Deus tenha misericórdia do Brasil, de toda as esferas de
poder desta República, de todos nós, e principalmente dos mais vulneráveis
(humanos, incluindo fauna e flora).
Sejamos a voz daqueles que não tem voz!
O Verdejante Azul me faz Ver Deus!