Siga nossas redes sociais
25/11/2024

Global

Surto de poliomielite no Sudão é de vírus ativo da vacina oral

Published

on

Compartilhe

Uma enfermeira administra vacina oral contra a poliomielite a crianças no Sudão. (Foto: Albert González Farran/UNAMID)

A Organização Mundial da Saúde reconheceu que um novo surto de poliomielite no Sudão está ligado a uma epidemia provocada pela vacina oral no Chade — uma semana após a agência de saúde da ONU ter declarado o continente africano livre do vírus selvagem.

SUDÃO – A organização da ONU encontra-se sobre pressão após ter pulado etapas e ter admitido ensaios curtos e com poucos voluntários para aprovação da vacina bOPV, introduzida em dezembro de 2009 com uso limitado a atividades suplementares de imunização (SIAs).

Em comunicado, a OMS disse que duas crianças com poliomielite no Sudão – uma, de 4 anos, do estado de Darfur do Sul; e outra, de 3 anos, do estado de Gedarif, perto da fronteira com a Etiópia e a Eritreia – sofreram paralisia. Ambas haviam sido vacinadas.

A OMS disse que as investigações iniciais mostram que os casos estão ligados a um surto derivado da vacina em curso no Chade, que foi detectado pela primeira vez no ano passado e agora está se espalhando no Chade e Camarões.

Entre 9 de agosto e 26 de agosto de 2020, houve um total de 13 casos de cVDPV2 (circulating vaccine-derived poliovirus type 2) confirmados no Sudão, nos estados Mar Vermelho, Darfur Ocidental, Darfur Oriental, Nilo Branco, Rio Nilo e Gezira.

Além disso, três amostras ambientais positivas para cVDPV2 dos locais de Soba, Elgoz e Hawasha em Cartum foram detectadas. O poliovírus selvagem tipo 2 foi erradicado em 1999, com o último caso adquirido naturalmente ocorrendo em Aligarh, Índia.

O vírus ativo da pólio na vacina oral pode sofrer mutação para uma forma capaz de desencadear novos surtos. O sequenciamento de vírus isolados no Sudão até agora reflete que os patógenos estão relacionados com poliovírus relatados anteriormente no vizinho Chade, de onde houve várias introduções separadas no Sudão a partir do Chade. Há circulação local no Sudão e o compartilhamento contínuo da transmissão com o Chade.

A OMS avalia que o risco de uma maior propagação internacional do cVDPV2 na África Central e no Chifre da África é alto, devido aos movimentos populacionais em grande escala na região.

Em todo o continente africano, 172 casos do tipo 2 em 14 países foram relatados em 2020. Normalmente, há muito mais casos não relatados para cada paciente confirmado de pólio. A doença altamente infecciosa pode se espalhar rapidamente em água contaminada e mais frequentemente atinge crianças com menos de 5 anos.

bOPV – Em abril de 2016, através de um evento global sem precedentes, 155 países e territórios eliminaram o uso da tOPV (trivalent  oral  poliovirus  vaccine) substituindo-a por bOPV (bivalent  oral  poliovirus  vaccine).

Mecanismo de aprovação da vacina bivalente de poliovírus oral (bOPV) por mês no ano que leva à troca. Abreviaturas: MA, autorização de comercialização; PQ, pré-qualificado. Fonte/arte: Decina, Daniela et al. Regulatory Aspects of Sabin Type 2 Withdrawal From Trivalent Oral Poliovirus Vaccine. Journal of Infectious Diseases. 216. S46-S51

Mecanismo de aprovação da vacina bivalente de poliovírus oral (bOPV) por mês no ano que leva à troca. Abreviaturas: MA, autorização de comercialização; PQ, pré-qualificado.

Na antiga vacina, havia um pequeno risco (2-4 casos / milhão de doses de tOPV administradas) de que o vírus atenuado reverteria para sua cepa de tipo selvagem mais virulenta e causaria paralisia em recipientes da vacina e seus contatos próximos.

Em 2017, foram registrados apenas 17 casos no mundo de pólio.

Em 2018, os casos de poliomielite causada por poliovírus selvagem cairam para 13 mas foram registrados 16 casos de poliovírus derivado da nova vacina oral.

Em 2019, havia mais crianças que ficaram paralíticas por vírus derivados da vacina oral do que aquelas paralisadas pelo vírus encontrado na natureza.

Os novos casos de poliomielite ligados à vacina tinham sido relatados em quatro países africanos: Nigéria, República Democrática do Congo, República Centro-Africana e Angola.

Na época, um relatório do Conselho de Monitoramento Independente, que avalia o trabalho e o progresso da erradicação da pólio, afirmou que o vírus derivado da vacina estava causando um surto descontrolado na África Ocidental. O relatório concluiu que “a estratégia já está falhando terrivelmente no objetivo de reduzir e, em última análise, eliminar o poliovírus derivado da vacina” e defendeu que novas estratégias seriam necessárias para combater a epidemia de pólio.

Nos países em desenvolvimento a vacina oral é utilizada devido ao seu baixo custo e acessibilidade, necessitando apenas de duas gotas por dose. Nos países ocidentais, uma versão injetável mais cara da vacina – que contém um vírus inativado, incapaz de causar a doença – é usada como preventivo.

Quando a criança recebe a vacina oral, o vírus enfraquecido se replica no intestino, estimulando a produção de anticorpos, e pode estar presente nas fezes. Em uma área onde há níveis suficientemente altos de imunidade na população, isso geralmente não representa um problema, mesmo que o saneamento seja precário.

Mas em áreas onde há falta de saneamento e falta de imunização geral, o vírus pode sobreviver e circular por meses, sofrendo mutações com o tempo até apresentar o mesmo risco de paralisia que a poliomielite selvagem.

O uso da vacina oral contra a poliomielite foi interrompido no Reino Unido em 2004 e nos EUA em 2000, e a agência da ONU recomenda que o uso da vacina oral deve ser interrompido após a poliomielite ser considerada erradicada devido ao risco de surtos derivados da vacina, situação que teria ocorrido no Paquistão.

Em abril, a OMS e seus parceiros recomendaram a suspensão das campanhas de imunização em massa contra a pólio, reconhecendo que a mudança poderia levar ao ressurgimento da doença. Em maio, eles relataram que 46 grandes campanhas para vacinar crianças contra a poliomielite foram suspensas em 38 países, principalmente na África, por causa da pandemia do coronavírus, deixando milhões de crianças vulneráveis à infecção.

Algumas das campanhas foram reiniciadas recentemente, mas os profissionais de saúde precisam vacinar mais de 90% das crianças em seus esforços para erradicar a doença.

A OMS recomenda que todos os viajantes para áreas afetadas pelo poliovírus sejam vacinados contra poliomielite. Visitantes por mais de 4 semanas devem receber uma dose adicional de vacina inativada contra pólio (IPV) entre 4 semanas e 12 meses antes da viagem.

No Brasil, o último caso de poliomielite ocorreu em 1990. Nas Américas, em 1991, no Peru.

*Com informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), Associated Press News, The Guardian.

 



Continue Reading
Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado.