O renomado cientista britânico afirma que a “população suscetível efetiva nunca foi 100%”. Os modelos da epidemia teriam errado ao assumir que a maioria das pessoas não tem alguma imunidade ao novo coronavírus. No Reino Unido, cerca de 80% da população não seria suscetível ao SARS-CoV-2, diz Friston. (Foto: Reprodução © Youtube/Serious Science)
Há apenas um mês, a ideia de que a maioria das pessoas não é
suscetível ao Covid-19 seria considerada negacionismo. No início de maio, o
Professor de Stanford e Prêmio Nobel Michael Levitt afirmou à Freddie Sayers,
em entrevista ao LockdownTV/UnHerd, que as curvas de crescimento da doença
nunca foram realmente exponenciais, sugerindo algum tipo de “imunidade
anterior”.
Hoje, porém, evidências de algum nível de resistência e
imunidade anteriores à Covid-19 estão presentes em artigos publicados revisados
por pares. Por exemplo, o estudo Targets of T Cell Responses to SARS-CoV-2
Coronavirus in Humans with COVID-19 Disease and Unexposed Individuals,
publicado em meados de maio na revista científica Cell, da Elsevier, sugere que
40% a 60% das pessoas não expostas têm resistência de outros coronavírus.
“É importante ressaltar que detectamos células T CD4+ reativas ao
SARS-CoV-2 em 40% a 60% dos indivíduos não expostos, sugerindo o reconhecimento
de células T reativas cruzadas entre coronavírus circulantes de resfriado comum
e SARS-CoV-2”, diz o artigo.
Células CD8+ e CD4+ específicas para SARS-CoV-2 foram
identificadas em ∼70% e 100% dos pacientes convalescentes com Covid-19. Células CD4+ reativas ao SARS-CoV-2 foram detectadas em ~40% a
60% de indivíduos não
expostos. © Alba Grifoni et al., Elsevier
Inc
São quatro os coronavírus responsáveis pelo resfriado comum:
Alpha coronavírus 229E e NL63, Beta coronavírus OC43 e o HKU1. Eles circulam
por todo o mundo. A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao
longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem.
Agora, de um membro proeminente do SAGE, o grupo criado para
desafiar os pareceres científicos do governo britânico, vem a afirmação de que
a parcela das pessoas que não são suscetíveis ao Covid-19 pode chegar a 80%.
O professor Karl Friston, como Michael Levitt, não é um
virologista; sua experiência é compreender processos biológicos complexos e
dinâmicos, representando-os em modelos matemáticos. No campo da neurociência,
ele foi classificado pela revista Science como o mais influente do mundo. É
regularmente citado como um cientista que provavelmente será agraciado com um
Nobel.
Friston inventou uma técnica chamada de “mapeamento
paramétrico estatístico” para entender a imagem cerebral e, nos últimos meses,
ele vem aplicando seu método particular de análise bayesiana, que ele chama de
“modelagem causal dinâmica”, aos dados disponíveis da Covid-19. “Até o
momento, nossas previsões foram precisas dentro de um ou dois dias; portanto,
há uma validade preditiva em nossos modelos que os convencionais não
possuem”, explicou Friston ao The Guardian.
Seus modelos sugerem que a grande diferença entre os
resultados no Reino Unido e na Alemanha, por exemplo, não é primariamente um
efeito de diferentes ações governamentais, mas é melhor explicada pelas
diferenças entre as populações, que fazem a “população suscetível” da Alemanha
muito menor do que no Reino Unido.
“O fato é que o alemão médio tem menos probabilidade de
ser infectado e morrer do que o britânico médio. Por quê? Existem várias
explicações possíveis, mas uma que parece cada vez mais provável é que a
Alemanha tenha mais “matéria escura” imunológica – pessoas que são impermeáveis
à infecção, talvez porque estejam geograficamente isoladas ou tenham algum tipo
de resistência natural. É como a matéria escura no universo: não podemos vê-la,
mas sabemos que deve estar lá”, especulou.
A matéria escura específica mencionada acima compreende um
subconjunto da população que participa da epidemia de uma maneira que os torna
menos suscetíveis à infecção – ou menos propensos a transmitir o vírus. Esse
tipo de matéria escura representa um desvio das abordagens epidemiológicas
básicas de doenças infecciosas que assumem 100% de suscetibilidade da
população. “Tecnicamente, a evidência para essa matéria escura é
esmagadora; no sentido de que a evidência (também conhecida como probabilidade
marginal) de modelos com essa subpopulação é muito maior do que a evidência de
modelos equivalentes sem ela”, escreve Friston.
O cientista destaca que uma vez que se incorpora no modelo
comportamentos que as pessoas adotam de qualquer maneira, como ficar na cama
quando estão doentes, o efeito do lockdown “literalmente desaparece”.
Sua explicação para os resultados de mortalidade
notavelmente semelhantes na Suécia (sem lockdown) e no Reino Unido (lockdown
total) é que “eles não eram realmente diferentes. Porque no final das
contas, os processos reais que entram na dinâmica epidemiológica – os
comportamentos reais, o distanciamento, foram especificados evolutivamente pela
maneira como nos comportamos quando temos uma infecção”.
Isso significaria que a principal suposição subjacente por
trás dos lockdowns, tipificada pelas famosas previsões do Imperial College –
sem controle a doença contaminaria toda a população de todos os países e
mataria cerca de 1% dos infectados, levando a incontáveis milhões de mortes em
todo o mundo – estava errada, por um grande fator.
Contudo, Friston disse que as premissas dos modelos de Neil
Ferguson estavam todas corretas, “sob a qualificação de que a população de
quem eles estavam falando é muito menor do que você imagina”. Em outras
palavras, Ferguson estava certo de que cerca de 80% das pessoas suscetíveis
seriam rapidamente infectadas, e estava certo de que entre 0,5% e 1% morreria,
mas não percebeu que a população suscetível era apenas uma pequena parcela de
pessoas no Reino Unido e uma parcela ainda menor em países como a Alemanha e
outros países.
O que muda tudo.
Em circunstâncias normais, a maioria das pessoas nunca irá
contrair a doença.
Naturalmente, cenários com uma carga viral muito alta, como
médicos que tratam pacientes com Covid-19 em hospitais, podem vencer essas
defesas.
A maior ação governamental coordenada da história, fechando
à força a maioria das sociedades do mundo com consequências que podem durar
gerações, teria sido baseada em ciência falha.
Os efeitos colaterais na América já podem ser mais mortais
do que a pandemia.
Scott Atlas, da Hoover Institution, estima que as
conseqüências do desemprego, da falta de consultas médicas e de outros fatores
durante os dois meses de lockdown levarão a tantas mortes extras que os
americanos perderão 1,5 milhão de anos acumulados de vida, o dobro do total
perdido até o momento com a Covid-19.
*Com informações da LockdownTV/UnHerd, The Guardian,
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), City Journal, Hoover
Institution