Sob Que Rosto Se Esconde os Agressores?
Vivemos em um país em que, ao se tratar de violência infantil, estamos na verdade falando de um problema epidêmico. O que chega ao conhecimento geral, não passa de meros exemplos que, por algum motivo a parte, ganharam os holofotes das mídias; a maior parte da sujeira é jogada para debaixo do tapete.
Segundo dados publicados no site do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, aponta que os pais são os principais agressores, com uma média de 59% (pai e mãe). A violência acontece, na maioria das vezes, dentro de casa, com 67% dos casos, colocando São Paulo com o maior número de denúncias; por volta de 23.870 só no ano de 2020. Estudiosos calculam que a pandemia acabou escondendo um número ainda maior de casos de violência infantil.
É comum, em situações de guarda compartilhada, quando a criança chora ao ir para a casa de um dos pais ou na casa de algum familiar ou vizinho em que é confiada a guarda da criança, ainda que temporariamente. Essas manifestações de choro muitas vezes são ignoradas ou tratadas como birra, manha, mas também pode se tratar de um sinal, um alerta sobre o que essa criança está vivenciando com essa pessoa ou família que se colocou como responsável.
Segundo a Dra. Gesika Amorim, Médica Neuropsiquiatra, especialista em Tratamento Integral do Autismo e Neurodesenvolvimento – Nos casos de violência doméstica a criança é sempre silenciada de alguma forma, por ameaças, chantagens ou mais violência. Às vezes a própria criança ou o adolescente se cala diante da situação, por medo, vergonha e constrangimento.
Violência Negligencial
Esse tipo de violência acontece quando os pais ou responsáveis, não são capazes de proporcionar as condições necessárias para o desenvolvimento total da criança; garantindo a saúde, educação, nutrição, abrigo, desenvolvimento emocional e toda a estrutura de segurança e cuidados básicos para garantir a sua sobrevivência. A negligência infantil, que é a mais comum e a mais denunciada dos maus tratos, pode causar grandes danos no desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral ou social da criança. Para que isso não ocorra é necessário que a criança, e também o adolescente, tenham suporte afetivo para seu pleno desenvolvimento, inclusive para o crescimento intelectual.
Violência Emocional/Psicológica
Segundo a definição da OMS, a violência emocional/psicológica é “a incapacidade de proporcionar um ambiente que seja favorável à criança e adequado para o seu estágio de desenvolvimento, incluindo a presença de uma figura de apego primária, de forma que a criança possa desenvolver de maneira estável todo o seu espectro de capacidades emocionais e sociais, compatível com o potencial pessoal e com a sociedade na qual a criança cresce”.
Rejeição, depreciação, agressões verbais, cobranças exageradas, culpabilização, discriminações e indiferença são algumas formas desse tipo de violência.
A violência emocional/psicológica, ao contrário da física, é bem mais difícil de identificar, apesar de sua grande ocorrência. Os danos na saúde mental podem trazer consequências devastadoras para o futuro da criança e do adolescente, pois afetará negativamente no seu desenvolvimento cognitivo e comportamental. Depressão, ansiedade, baixa-estima e transtorno de estresse pós-traumático são alguns sintomas que podem ser apresentados pelas vítimas – Complementa a Dra. Gesika Amorim
Violência Física
Segundo a OMS – Todas as formas de tratamento cruel físico e/ou emocional, abuso sexual, negligência, exploração comercial ou qualquer outra forma de exploração, que ocorrem em uma relação de responsabilidade, confiança e poder e resultem em danos verdadeiros ou potenciais para a saúde da criança, sua sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade”.
Como saber se uma criança pode estar sendo vítima de violência? Segue abaixo alguns sinais:
- Mudança drástica no comportamento; quando uma criança de temperamento alegre se torna triste ou se é agitada e, de repente, torna-se quieta e introspectiva. A agressividade é também uma característica.
- Machucados, hematomas, vergões são sinais claros. No entanto, nem sempre as agressões físicas deixam marcas aparentes no corpo.
- Quadro de depressão, baixa autoestima. A criança pode tornar se arredia por medo e por deixar de confiar nas pessoas, mesmo essas sendo próximas.
Mais uma vez nos comovemos com casos trágicos como o do menino Henry, revelando o quanto de nossa sociedade está doente e de que forma nossas crianças estão sendo tratadas. Mas afinal, quantos outros Henrys existem e que não chegam ao nosso conhecimento? Será preciso morrer para ganhar os holofotes?
Independentemente do nível de psicopatia que possa estar envolvido em casos como esse, muitos até aliados à bebida e drogas ilícitas, não podemos ignorar que o estado está muitas vezes longe da real compreensão do problema. O estado, ou seja, todo o aparato judicial, não tem ouvidos para as crianças e adolescentes.
É preciso se conectar com a criança, saber ouvi-la, saber o que ela tem a dizer e buscar conhecer a sua realidade; não essa “realidade” que os adultos impõem como verdade ou que o sistema jurídico enxerga como única e inquestionável, considerando que a criança, não importando a sua idade, não tem condições de entender e expressar as situações no ambiente em que vive. Muitas vezes nem mesmo a mãe é levada em conta – Finaliza a Dra. Gesika Amorim.
Dra Gesika Amorim é Mestre em Educação médica, Neuropsiquiatra com formação em Homeopatia Detox (Holanda), Especialista em Tratamento Integral do Autismo. Possui extensão em Psicofarmacologia e Neurologia Clínica em Harvard. Especialista em Neurodesenvolvimento e Saúde Mental; Pediatra, Homeopata, Pós Graduada em Medicina Ortomolecular – (Medicina Integrativa), dentre outros títulos.
Assessora de Imprensa: Marcela Melo