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25/11/2024

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Final feliz ! Pai e filho refugiados sírios retratados em foto premiada ganham asilo e próteses na Itália

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SIPA 2021 - Photo of the Year - Handship of the life - Mehamet Aslan
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Movimento de ajuda foi liderado por fotógrafo italiano que dirige o SIPA Awards

Londres – Poderia ser mais um entre tantos registros dos efeitos dramáticos dos conflitos sobre as pessoas, mas a foto de um pai sem uma das pernas segurando Mustafa, o menino sírio nascido sem pernas e braços feita por um fotojornalista turco, mudou o destino de uma família castigada pela guerra.   

Depois de ficar em primeiro lugar no Siena International Photo Awards (SIPA) em 2021, a imagem de Mustafa e seu pai Munzir viralizou pelo mundo e desencadeou um movimento de ajuda financeira, diplomática e médica. 

Como resultado, a família recebeu asilo na Itália, já está radicada na cidade de Siena e pai e filho serão operados para receber próteses para voltar a caminhar – ou, no caso de Mustafa, para caminhar pela primeira vez.

Foto transformou vida do menino sem pernas e braços

A história é um exemplo do efeito transformador do jornalismo.

O pequeno Mustafa al-Nazzal, um menino sírio de cinco anos nascido sem braços e pernas por causa da guerra em seu país, foi imortalizado na foto de autoria do fotógrafo turco Mehmet Aslam.

A imagem mostra Mustafa sorridente brincando com o pai, ele próprio vítima da guerra, que lhe causou a perda de uma perna.

SIPA 2021 – Photo of the Year – Handship of the life – Mehamet Aslan

Apesar de todos os horrores sofridos, o pai, Munzir, de 33 anos, joga feliz o filho sorridente para o alto, brincando em um local marcado pela tragédia: um campo de refugiados na Turquia.https://3bba470b026a83e8fe784ed90d116681.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

O caso teve grande visibilidade na imprensa italiana e fez com que o organizador do Siena International Photo Awards, Luca Venturi se movimentasse.

Foi dele a ideia de lançar um crowdfunding, que arrecadou cerca de 100 mil euros para ajudar a família. O dinheiro tornou possível a viagem da família e o custeio das despesas médicas. 

Mustafa, seus pais e duas irmãs menores passaram a morar em Siena, acolhidos oficialmente pelo governo italiano e com o suporte da organização beneficente da igreja católica Caritas, que oferece moradia, alimentação e o apoio de voluntários a refugiados.

Este video mostra a chegada à Itália, sob o título “Agora está feliz”

Menino da foto foi vítima do conflito na Síria 

A família de Mustafa foi parar no campo de refugiados turco depois de fugir de Idlib, na região noroeste da Síria, em 2019. A foto que encantou o mundo foi feita no ano passado.

Em 2014, ocorrera o episódio que mudara a vida da família: um ataque químico do regime sírio atingiu Munzir e sua esposa Zeynep quando eles iam de moto a um mercado fazer compras.

Munzir diz não se lembrar de mais nada, até o momento em que acordou num hospital turco, com a perna amputada.

Sua esposa Zeynep, na época grávida de  de Mustafá, escapou ilesa. Mas inalou o gás, causador de uma síndrome rara que fez o menino nascer sem pernas e braços. 

Família do menino perdeu tudo na guerra 

Liberados do hospital, Munzir e a esposa voltaram para a Síria. Mas ele conta que a guerra acabou por lhes tomar tudo o que tinham, inclusive as terras de seus antepassados que cultivavam e que foram confiscadas pelo exército.

Isso fez com que a família fugisse para o campo de refugiados na Turquia, onde a foto de Mehmet Aslam mudou de novo o rumo de suas vidas – desta vez para melhor.

O pequeno Mustafa está completando nestes primeiros dias de fevereiro o ciclo preliminar de exames e investigações médicas. 

Pai e filho são esperados no início de março no Centro Protesi Vigoroso de Budrio, perto de Bolonha, onde começará a reabilitação. É o mesmo centro que já atendeu campeões paralímpicos italianos como Alessandro Zanardi e Bebe Vio.

Mas se para o pai Munzir a reabilitação deve ser curta, estima-se que a de Mustafa será mais complexa, porque o menino nunca teve pernas e braços – e isso torna o processo mais difícil, explicam os especialistas à frente do caso.

Escola para o menino que nasceu sem pernas e braços  

“Grazie”, “Ciao”, “Itália” e sobretudo “Ciaccino” (a típica focaccia recheada de Siena), são as primeiras palavras que Mustafa e suas irmãzinhas aprenderam a pronunciar e que muitas vezes repetem sob o olhar divertido de seus pais. 

A chegada à Itália foi notícia em todo o país. Em Siena, eles encontraram Luca Venturi, curador do concurso que premiou a foto que acabou por mudar a vida deles. 

A mãe Zeynep, de 26 anos, diz ao lado do marido que o sonho deles é fazer com que Mustafa possa brincar com as outras crianças e ter uma vida digna.

E agradecem a oportunidade dada aos três filhos de poder frequentar a escola italiana. Os dois já estão estudando o idioma para poderem trabalhar e sustentar a família. O pai disse: 

“Estou tão feliz, Mustafa está feliz e agora não preciso mais mentir. Ele perguntou se poderá ir à escola. Vou poder responder que sim, que terá uma vida boa e que poderá brincar”.

Por enquanto, a moradia e o sustento estão sendo fornecidos pela arquidiocese local, que começou a se envolver no caso em meados de 2021.

Um vídeo realizado pela SIR (Società per l’Informazione Religiosa) mostra o pequeno Mustafa, seu pai e o resto da família em Siena. https://www.youtube.com/embed/cOEZ_WwrHHI?feature=oembed

Num trecho, o cardeal Augusto Lojudice, Arcebispo de Siena, diz esperar que a iniciativa  possa chamar a atenção para a guerra da Síria e para o sofrimento das crianças, como o do menino privado de pernas e braços antes mesmo de nascer. 

O cardeal também critica o fato de a Europa não dar uma resposta adequada ao drama dos refugiados:

“Acima dos interesses das cidades, das nações e do próprio continente, estão os interesses da humanidade”.

A história de Siena contempla quase mil anos de apoio a refugiados. Já no ano de 1090 começou a funcionar na cidade o hospital de peregrinos mais antigo da Europa. 

O centro, chamado de Santa Maria della Scala, acolhia os peregrinos que percorriam a Via Francigena, recebia as crianças pobres e abandonadas chamadas “gettatelli” e cuidava dos doentes. 

O pequeno Mustafa e seu pai não poderiam estar em melhores mãos.

Fonte:https://mediatalks.uol.com.br/