“Salve Maria santíssima!”, “Viva nosso pai São Dom Bosco!”, “Viva São Francisco Xavier!”. As frases de saudação eram respondidas em coro, com efusivos “Salve!” e “Viva!”, por um grupo de pessoas reunidas do outro lado da rua onde fica a sede do Consulado da China no Brasil, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Na noite daquela terça-feira, 30 de março, eles colocaram uma imagem grande de Nossa Senhora de Fátima na calçada e ficaram em torno dela. Um homem, ao lado da estátua, segurava uma cruz com um Cristo afixado. E assim, ali, rezaram o rosário por mais de uma hora, pedindo aos santos que convertessem os chineses ao catolicismo e livrassem os brasileiros da “besta comunismo” que, segundo eles, assola o mundo, sobretudo o Brasil.
A reza, transmitida ao vivo no YouTube e acompanhada por mais de 500 pessoas, faz parte de um movimento organizado por católicos conservadores contrários ao fechamento temporário de igrejas no Brasil — devido às medidas de contenção da pandemia — e propagadores de um discurso ideológico anti-China. “Há alguns anos, a China assumiu o protagonismo na propagação dos erros da Rússia pelo mundo. Com a crise ocasionada pela covid, o papel da China como propagadora desse mal se tornou ainda mais evidente”, dizia Pedro Affonseca, antes de começar a oração.
“Por outro lado, fica cada vez mais claro que o papel de guardar a fé católica no mundo caberá ao Brasil.” Na transmissão daquela noite, alguns homens apareciam diante da câmera, todos sem máscara, incluindo Affonseca, que vestia terno e gravata. Uma chuva forte desabou sobre três deles nos dez primeiros minutos do rosário e os deixou ensopados. Dos outros participantes só ouvíamos as vozes.
Rogai por nós Pedro Luiz Oliveira de Affonseca, 34, é presidente do Centro Dom Bosco, associação de católicos leigos que já judicializou diversas ações em defesa de valores conservadores. Em 2020, por exemplo, eles foram autores do pedido que levou a Justiça do Rio de Janeiro a censurar o especial de Natal do programa “Porta dos Fundos” — e também conseguiram na Justiça do Rio de Janeiro a censurar o especial de Natal do programa “Porta dos Fundos” — e também conseguiram na Justiça de São Paulo proibir a ONG Católicas pelo Direito de Decidir de usar “católicas” no nome. Foi Affonseca que conduziu a reza em frente ao Consulado da China.
“Pelo povo brasileiro e pelo povo chinês, dois povos muito sofridos”, disse. “O povo chinês talvez ainda mais, porque, sob uma aparência de progresso econômico, vive na maior das misérias que é a espiritual, porque não pode professar livremente a fé católica.” Na China há aproximadamente 12 milhões de católicos, mas a maioria pertence à Associação Patriótica, uma Igreja Católica criada há mais de 60 anos e controlada controlada pelo governo chinês.
Com o início da pandemia do coronavírus no ano passado, o Centro Dom Bosco passou a encabeçar discussões contra as medidas de estados e cidades do país que decidiram fechar igrejas e limitar cultos religiosos a fim de evitar aglomerações.
Uma série de vídeos e lives vem sendo publicada nos perfis da associação nas redes sociais, criticando dioceses que cumprem essas normas, e, mais recentemente, endossando revelia à Campanha da Fraternidade de 2021, cujo texto assinado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) repreende a “negação da ciência” e a “cultura de violência” contra mulheres, negros, indígenas e a população LGBTQ.
Essas “ameaças sempre presentes”, segundo o presidente do Dom Bosco, estão diretamente ligadas a uma possível ditadura que o Partido Comunista Chinês tenta difundir pelo mundo. “Nada mais natural que essa potência [econômica] tente difundir os seus erros pelo mundo e subjugar as demais nações, através de todas as frentes e expedientes possíveis e imagináveis”, acredita.
Fonte : Christian Post